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Espero que você ao acessar este blog esteja ciente que terá acesso a verdades, mas verdades plausíveis que podem a qualquer momento serem refeitas.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
PASSOS DE GRAÇA
Haroldo Reimer 1
Nossos textos sagrados se tornaram fonte para falar da graça de Deus, que age no mundo e o transforma,
transformando pessoas e relações. A graça se tornou texto. A verdadeira fonte da graça se tornou locus literário, virou
literatura. Essa literatura se transformou, para muitos grupos cristãos, em norma, até em norma normans de todo agir
(cristão) em meio às contradições da vida, do cotidiano e da fé.2
Na Bíblia, esta norma normans de parcela significativa do cristianismo, a figura de Jesus se tornou por excelência a
condensação dessa graça de Deus. Na plenitude dos tempos, Deus manifestou nele a inteireza de sua graça. Este é, em
nossa fé, o condutor e o catalisador da graça divina.
Lições da história das religiões e da fenomenologia da religião nos mostram que o Deus da graça é sempre também, de
alguma forma, o Deus da lei. É o que Rudolf Otto chamava de mysterium fascinans et tremendum.3 A divindade que
se manifesta e é percebida é sempre um amálgama de várias facetas; é maior do que toda experiência; por isso é
transcendente. Nosso Deus, na multiplicidade das experiências de fé que se tornaram texto-literatura, é um “amálgama
de diversas personalidades em um único personagem”4. Mesmo na essência da graça, em Jesus, manifesta-se também
uma duplicidade ou ambigüidade do elemento fascinante e terrorífico. Há que amar e temer...
De muitas formas, mesmo antes de Jesus, os textos sagrados de nossa tradição falam da graça de Deus atuante no
mundo. Mesmo na forma da ‘lei’, as Escrituras revelam a face da graça de Deus. Um texto de ‘lei’, isto é do conjunto
de tradições legais do povo hebreu, Torá, revela muito bem esta simultaneidade (simul) de lei, graça, evangelho,
norma, boa nova:
“Não afligirás o estrangeiro, nem o oprimirás;
pois estrangeiros fostes na terra do Egito.
A nenhuma viúva nem órfão afligireis.
Se algum modo os afligirdes, e eles clamarem a mim,
Eu lhes ouvirei o clamor;
A minha ira se acenderá, e vos matarei à espada;
Vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhos, órfãos.
Se emprestares dinheiro a meu povo,
Ao pobre que está contigo,
Não te haverás como credor que impõe juros.
Se do teu próximo tomares em penhor a sua veste;
Deverás restituí-la a ele antes do pôr-do-sol,
Porque é com ela que se cobre, é aveste do seu corpo;
Em que se deitaria?
Será, pois, quando clamar a mim, eu o ouvirei,
porque eu sou Deus misericordioso.”
(Êxodo 22,21-24)
O texto faz parte de um conjunto legal maior (Ex 20,22-23-19), tido pela maioria dos pesquisadores do Antigo
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Testamento ou da Bíblia hebraica como o código de leis mais antigo no conjunto destes textos sagrados, variando as
datações entre o século X e VIII aC.5 Sob o guarda-chuva teológico do primeiro mandamento, esta coleção buscaria
abrigar as contradições, as pessoas e os grupos distintos naquela sociedade, aproximando-os sob a noção de aliança
(berit).
Nesta forma de lei no esquema de aliança, a exemplo deste texto, evidencia-se muito bem essa duplicidade,
ambigüidade ou melhor simultaneidade na palavra de graça e de evangelho, isto é ‘boa notícia’. A forma do texto é
‘lei’. O conteúdo, porém, é lei e graça, lei e evangelho. Isso se torna especialmente evidente quando se pergunta pelos
destinatários da graça, por aqueles que são beneficiados pela lei e por aqueles que, como sujeito da lei, são restringidos
na sua ‘liberdade’. O sujeito jurídico do texto é claramente um chefe de alguma unidade familiar-clânica (= tu), que,
no âmbito de sua influência e ingerência social, deveria ‘aplicar’ esta lei, favorecendo as pessoas empobrecidas
mencionadas no texto legal. Para estas personae miserae, a aplicação da lei é ‘boa notícia’, é ‘evangelho’, pois sua
prática implica em um princípio ou passo de inclusão ou manutenção dentro da rede de seguridade social familar-
clânica na sociedade do antigo Israel. Simultaneamente, porém, a lei e sua aplicação resulta em um princípio julgador
sobre a prática social de lideranças sociais, comunitárias e clânicas daquele tempo. Para estes ‘chefes’, a lei e sua
aplicação são ‘lei’ na verdadeira acepção do termo.
A partir deste exemplo particular, é possível fazer duas afirmações importantes: a) em muitos textos sagrados, a fala
sobre a graça de Deus atuante no mundo assume uma simultaneidade de graça e lei; b) no contexto social daquelas
pessoas e comunidades na origem do texto, há movimentos variados de reivindicação, de contestação, de resguardo de
privilégios, enfim de aproximações na forma de acordo, aliança ou, como afirma a língua hebraica, de berit. Para falar
hoje de Deus e de sua graça que transforma o mundo, há que se estar atento para estes dados. A graça que se tornou
texto-literatura-fonte é resultado de passos concretos de pessoas para ensaiarem passos e criarem espaços de graça em
meio à complexidade do cotidiano e das relações sociais. A graça que transforma pode assumir a forma da lei em meio
às contradições sociais, econômicas e políticas dadas dentro um espírito de libertação rumo à liberdade e à dignidade
de vida.
Dentro do Antigo Testamento, ou da Bíblia hebraica, há todo um conjunto de tradições, que adequadamente podem
ser designadas como sendo tradições geradoras de tempos de graça.6 São as chamadas tradições jubilares, nome que
deriva do texto do jubileu do qual se fala em Levítico 25. Em sua grande capacidade de linguagem metafórica, frei
Carlos Mesters afirma que o “jubileu aparece como um rio que atravessa a história do povo de Deus e, com o passar
dos anos, vai crescendo em largura e volume (...) Este rio é formado por muitos afluentes que vêm de regiões e épocas
distantes”7. Pode-se identificar e nomear alguns destes afluentes: o descanso do dia de sábado para o ser humano e os
animais a cada sete dias (Ex 34, 21; 23,12; 20,8-11; Dt 5,12-15; Gn 2,1-3 etc); um descanso para a terra a cada sete
anos (Ex 23,1-11); alforria de pessoas pobres endividadas e escravizadas ao final de seis anos de submissão (Ex
21,2-11; Dt 15,12-18); perdão ou remissão de dívidas ao final do sétimo ano (Dt 15,1-11)8; um jubileu geral a cada
cinqüenta anos (Lv 25); um ano agradável a Deus (Is 61); um jubileu proclamado por Jesus (Lc 4), etc. Especialmente
em Jesus há um resgate e aprofundamento dessas tradições de tempos de graça na história do povo de Deus. O rio se
torna mais profundo e caudaloso!
Essas tradições-texto sobre passos, espaços e tempos de graça na história de nossos antepassados na fé podem ser,
hoje, fontes ou musas inspiradoras para práticas novas e alternativas em meio aos contextos e contradições de nosso
tempo. E assim podem ser lidas e interpretadas. Aqui basta trazer à memória a riqueza de reflexões desencadeadas por
estas tradições dos tempos de graça na virada do século e do milênio, quando internacionalmente havia uma sintonia
com a celebração de um jubileu na tradição católico-romana. Simultaneamente pode-se recordar como este impulso foi
desdobrado para dentro de muitas e diversas ações da campanha “jubileu 2000”, deflagrada e incentivada pelo
Conselho Mundial de Igrejas, e promovida por muitos organismos ecumênicos regionais como o Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs, no Brasil. A experiência daqueles ‘tempos bíblicos’ se tornou texto e esse texto é gerador de novas
experiências. Há aí uma circularidade ou espiralidade hermenêutica, ocorrendo quase uma “fusão de horizontes”
dentro da cadeia de tradições.
As tradições e os textos que para nós se tornaram canônicos ou sagrados um dia foram vivência. Foram a experiência
geradora do testemunho, da codificação na forma de fonte literária inspiradora através dos tempos. Este é um dado
que me parece ser importante nunca perder de vista quando se fala, de forma afirmativa ou subjuntiva, de Deus, sua
Palavra e da sua graça que transforma o mundo. Ao repassar, através dos textos, para dentro da história vivida
daqueles tempos realizamos uma sintonia especial. Reatamos com pessoas, grupos, comunidades que ensaiaram passos
para experimentar espaços de graça neste mundo. Seus passos e suas palavras se tornaram sagrados!
Os contextos dos textos bíblicos, especialmente do Antigo Testamento, nem de longe antevêem ou refletem a
complexidade e as contradições próprias de nossos tempos. São textos de realidades pré-modernas, pré-capitalistas.
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Refletem em geral um mundo agrário do Oriente próximo ou do entorno do Mediterrâneo. Sobre a vida de pessoas,
grupos e comunidades em tais contextos incidem formas de tributação, de exploração de produtos e mão de obra.
Desde fins do século VIII aC as demandas próprias de uma economia monetária incipiente se reflete (negativamente)
sobre tais gentes. Empobrecimento, colheitas malogradas, doenças levam pessoas a buscar auxílio na rede de
solidariedade das famílias e dos clãs, procurando incrementar tradições como a lei do resgate, a lei do levirato, etc.
Tais redes, muitas vezes, já estão furadas pela adesão às novas regras econômicas, levando pessoas empobrecidas a
buscar empréstimos que servem de âncora para novos movimentos exploratórios, recheados de ‘maracutaias’, como o
denunciam alguns profetas (Am 8,4-7; Is 3,12-15; 10,1-3 etc).9
O horizonte de mundo daqueles contextos parece ser relativamente pequeno dentro daquele mundo agrário com
poucos e ensaios urbanos, Mas já há aí uma complexidade própria! Em meio a tais contradições se dá o movimento de
pessoas ensaiando o sentido daquele que hoje chamamos de graça e cuja ação tão intensamente desejamos para dentro
de nosso próprio mundo: Deus, em tua graça transforma nosso mundo! O exercício, os passos de gente reivindicando,
de gente buscando saídas, de gente negociando, de outros concedendo vai gerando experiências, que se tornam
referências, que viram acordos, que se tornam textos. Tais textos nos inspiram hoje não só a olhar para a graça do
Deus transcendente, mas para a graça a ser construída de forma conjunta em nosso tempo.
Além do exposto, um exemplo no qual toda a problemática pode muito bem ser exemplificada é a questão do sábado.
O shabbat é, por excelência o tempo e espaço para o gozo da graça em meio ao mundo do trabalho. Os textos bíblicos
mais antigos relativos ao sábado falam dele como uma ruptura do intenso ritmo de trabalho. No dia de sábado deve-se
fazer uma pausa, interromper os trabalhos, mesmo no maior ritmo da produção (Ex 34,21). No dia de sábado deve
haver uma possibilidade de um ócio geral para todos os integrantes da unidade de produção e reprodução (Ex
23,10-11; 20,8-11; Dt 5,12-15). O ápice desse tipo de projeção e representação da graça é alcançada no relato da
criação em Gênesis 1,1-2,3.10 Após haver criado todo o cosmo em seis dias, no sétimo dia Deus descansou de toda
obra que fizera. Este texto em linguagem mítica convida os ouvintes, leitores, enfim todas as pessoas, que se põem no
seguimento a esta tradição a fazerem uma imitatio dei, realizando um tempo de pausa e de graça em meio ao ritmo
intenso da vida. Isso será como uma marca distintiva da fé em Deus, que, em alguns momentos na tradição do povo
hebreu levou a radicalizações. Contudo, a reinterpretação dada por Jesus de Nazaré conduziu o sentido do sábado
novamente à sua originalidade: o sábado foi feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado (M 2,27-28).
Assim, o tempo de graça do shabbat poderá ser uma antecipação da graça de Deus atuante e operante neste mundo. É
um tempo de sonho, de utopia, de suspiro da criatura oprimida em busca de libertação e liberdade. Bem já dizia o
judeu Franz Rosenzweig que “todo sábado humano torna-se sonho da plenitude”. Também para o próprio Lutero, o
ócio é culto verdadeiro a Deus. Cabe a nós, em nossos tempos e em nossas vicissitudes e contradições, dar os passos
para o estabelecimento de espaços de graça em nosso mundo. Assim poderemos mais plenamente dizer: Deus, em tua
graça, transforma o nosso mundo!
[Texto publicado em: PEREIRA, Nancy Cardoso et alii (orgs.). A graça do mundo transforma Deus. Diálogos latino-
americanos com a IX Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas. Porto Alegre: Editora Universitária Metodista,
2006, p. 105-111]
Passeio Socrático
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”
A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dosshopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”
Frei Betto é escritor, autor do romance “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.
Pessimismo capitalista e Darwinismo social
Que fazer quando uma crise como a nossa se transforma em sistêmica, atingindo todas as áreas e mostra mais traços destrutivos que construtivos? É notório que o modelo social montado já nos primórdios da modernidade, assentado na magnificação do eu e em sua conquista do mundo em vista da acumulação privada de riqueza não pode mais ser levado avante. Apenas os deslumbrados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula, acreditam ainda neste projeto que é a racionalização do irracional. Hoje percebemos claramente que não podemos crescer indefinidamente porque a Terra não suporta mais nem há demanda suficiente. Este modelo não deu certo, pelas perversidades sociais e ambientais que produziu. Por isso, é intolerável que nos seja imposto como a única forma de produzir como ainda querem os membros do G-20 e do PAC. A situação emerge mais grave ainda quando este sistema vem apontado como o principal causador da crise ambiental generalizada, culminando com o aquecimento global. A perpetuação deste paradigma de produção e de consumo pode, no limite, comprometer o futuro da biosfera e a existência da espécie humana sobre o planeta. Como mudar de rumo? É tarefa complexíssima. Mas devemos começar. Antes de tudo, com a mudança de nosso olhar sobre a realidade, olhar este subjacente à atual sociedade de marcado: o pessimismo capitalista e o darwinismo social. O pessimismo capitalista foi bem expresso pelo pai fundador da economia moderna Adam Smith (1723-1790), professor de ética em Glasgow. Observando a sociedade, dizia que ela é um conjunto de indivíduos egoistas, cada qual procurando para si o melhor. Pessimista, acreditava que esse dado é tão arraigado que não pode ser mudado. Só nos resta moderá-lo. A forma é criar o mercado no qual todos competem com seus produtos, equilibrando assim os impulsos egoistas. O outro dado é o darwinismo social raso. Assume-se a tese de Darwin, hoje vastamente questionada, de que no processo da evolução das espécies sobrevive apenas o mais forte e o mais apto a adaptar-se. Por exemplo, no mercado, se diz, os fracos serão sempre engolidos pelos mais fortes. É bom que assim seja, dizem, senão a fluidez das trocas fica prejudicada. Há que se entender corretamente a teoria de Smith. Ele não a tirou das nuvens. Viu-a na prática selvagem do capitalismo inglês nascente. O que ele fez, foi traduzi-la teoricamente no seu famoso livro: "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações"(1776) e assim justificá-la. Havia, na época, um processo perverso de acumulação individual e de exploração desumana da mão de obra. Hoje não é diferente. Repito os dados já conhecidos: os três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores à toda riqueza de 48 países mais pobres onde vivem 600 milhões de pessoas; 257 pessoas sozinhas acumulam mais riqueza que 2,8 bilhões de pessoas o que equivale a 45% da humanidade; o resultado é que mais de um bilhão passa fome e 2,5 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza; no Brasil 5 mil famílias possuem 46% da riqueza nacional. Que dizem esses dados se não expressar um aterrador egoismo? Smith, preocupado com esta barbárie e como professor de ética, acreditava que o mercado, qual mão invisível, poderia controlar os egoismos e garantir o bem estar de todos. Pura ilusão, sempre desmentida pelos fatos. Smith falhou porque foi reducionista: ficou só no egoismo. Este existe mas pode ser limitado, por aquilo que ele omitiu: a cooperação, essencial ao ser humano. Este é fruto da cooperação de seu pais e comparece como um nó-de-relações sociais. Somente sobrevive dentro de relações de reciprocidade que limitam o egoismo. É verdade que egoismo e altruismo convivem. Mas se o altruismo não prevalecer, surgem perversões como se nota nas sociedades modernas assentadas na inflação do "eu" e no enfraquecimento da cooperação. Esse egoismo coletivo faz todos serem inimigos uns dos outros. Mudar de rumo? Sim, na direção do "nós", da cooperação de todos com todos e na solidariedade universal e não do "eu" que exclui. Se tivermos altruismo e compaixão não deixaremos que os fracos sejam vítimas da seleção natural. Interferiremos cuidando-os, criando-lhes condições para que vivam e continuem entre nós. Pois cada um é mais que um produtor e um consumidor. É único no universo, portador de uma mensagem a ser ouvida e é membro da grande família humana. Isso não é uma questão apenas de política, mas de ética humanitária, feita de solidariedade e de compaixão. Leonardo Boff é autor de Princípio compaixão e cuidado, Vozes (2007). |
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Pseudo Epígrafo de Gênesis
Livro de Melquisedeque
(Observação)
A Criação do Universo I
Antes que existisse uma estrela a brilhar, antes que houvesse anjos a cantar, já havia um céu, o lar do Eterno, o único Deus.
Perfeito em sabedoria, amor e glória, viveu o Eterno uma eternidade, antes de concretizar o Seu lindo sonho, na criação do Universo.
Os incontáveis seres que compõem a criação foram, todos, idealizados com muito carinho. Desde o íntimo átomo às gigantescas galáxias, tudo mereceu Sua suprema atenção.
Movendo-Se com majestade, iniciou Sua obra de criação. Suas mãos moldaram primeiramente um mundo de luz, e sobre ele uma montanha fulgurante sobre a qual estaria para sempre firmado o trono do Universo. Ao monte sagrado Deus denominou: Sião.
Da base do trono, o Eterno fez jorrar um rio cristalino, para representar a vida que d'Ele fluiria para todas as criaturas.
Como sala do trono, criou um lindo paraíso que se estendia por centenas de quilômetros ao redor do monte Sião. Ao paraíso denominou: Éden.
Ao sul do paraíso, em ambas as margens do rio da vida, foram edificadas numerosas mansões adornadas de pedras preciosas, que se destinavam aos anjos, os ministros do reino da luz.
Circundando o Éden e as mansões angelicais, construiu Deus uma muralha de jaspe luzente, ao longo da qual podiam ser vistos grandes portais de pérolas.
Com alegria, o Eterno contemplou a Capital sonhada.
Carinhosamente, o grande Arquiteto a denominou: Jerusalém, a Cidade da Paz.
Deus estava para trazer à existência a primeira criatura racional. Seria um anjo glorioso, de todos o mais honrado. Adornado pelo brilho das pedras preciosas, esse anjo viveria sobre o monte Sião, como representante do Rei dos reis diante do Universo.
Com muito amor, o Criador passou a modelar o primogênito dos anjos. Toda sabedoria aplicou ao formá-lo, fazendo-o perfeito. Com ternura concedeu-lhe a vida; o formoso anjo, como que despertando de um profundo sono, abriu os olhos e contemplou a face de seu Autor.
Com alegria, o Eterno mostrou-lhe as belezas do paraíso, falando-lhe de Seus planos, que começavam a se concretizar. Ao ser conduzido ao lugar de sua morada, junto ao trono, o príncipe dos anjos ficou agradecido e, com voz melodiosa, entoou seu primeiro cântico de louvor.
Das alturas de Sião, descortinava-se, aos olhos do formoso anjo, Jerusalém em sua vastidão e esplendor. O rio da vida, ao deslizar sereno em meio à Cidade, assemelhava-se a uma larga avenida, espelhando as belezas do jardim do Éden e das mansões angelicais.
Envolvendo o primogênito dos anjos com Seu manto de luz, o Eterno passou a falar-lhe dos princípios que haveriam de reger o reino universal. Leis físicas e morais deveriam ser respeitadas em toda a extensão do governo divino.
As leis morais resumiam-se em dois princípios básicos: amar a Deus sobre todas as coisas e viver na fraternidade com todas as criaturas. Cada criatura racional deveria ser um canal por meio do qual o Eterno pudesse jorrar aos outros vida e luz. Dessa forma, o Universo cresceria em harmonia, felicidade e paz.
Depois de revelar ao formoso anjo as leis de Seu governo, o Eterno confiou-lhe uma missão de grande responsabilidade: seria o protetor daquelas leis, devendo honra-las e revela-las ao Universo prestes a ser criado. Com o coração transbordante de amor a Deus e aos semelhantes, caber-lhe-ia ser um modelo de perfeição: seria Lúcifer, o portador da luz.
O príncipe dos anjos; agradecido por tudo, prostrou-se ante o amoroso Rei, prometendo-Lhe eterna fidelidade.
O Eterno continuou Sua obra de criação, trazendo à existência inumeráveis hostes de anjos, os ministros do reino da luz. A Cidade Santa ficou povoada por essas criaturas radiantes que, felizes e gratas, uniam as vozes em belíssimos cânticos de louvor ao Criador.
Deus traria agora à existência o Universo que, repleto de vida, giraria em torno de Seu trono firmado em Sião. Acompanhado por Seus ministros, partiu para a grandiosa realização.
Depois de contemplar o vazio imenso, o Eterno ergueu as poderosas mãos, ordenando a materialização das multiformes maravilhas que haveriam de compor o Cosmo. Sua ordem, qual trovão, ecoou por todas as partes, fazendo surgir, como que por encanto, galáxias sem conta, repletas de mundos e sóis - paraísos de vida e alegria -, tudo girando harmoniosamente em torno do monte Sião.
Ao presenciarem tão grande feito do supremo Rei, as hostes angelicais prostraram-se, fazendo ecoar pelo espaço iluminado um cântico de triunfo, em saudação à vida. Todo o Universo uniu-se nesse cântico de gratidão, em promessa de eterna fidelidade ao Criador.
Guiados pelo Eterno, os anjos passaram a conhecer as riquezas do Universo. Nessa excursão sideral, ficaram admirados ante a vastidão do reino da luz. Por todas as partes encontravam mundos habitados por criaturas felizes que os recebiam em festa. Os anjos saudavam-nos com cânticos que falavam das boas novas daquele reino de paz.
Tão preciosa como a vida, a liberdade de escolha, através da qual as criaturas poderiam demonstrar seu amor ao Criador, exigia um teste de fidelidade. Com o propósito de revelá-lo, o Eterno conduziu as hostes por entre o espaço iluminado, até se aproximarem de um abismo de trevas que contrastava com o imenso brilho das galáxias. Ao longe, esse abismo revelara-se insignificante aos olhos dos anjos, como um pontinho sem luz; mas à medida de sua aproximação, mostrou-se em sua enormidade. O Criador, que a cada passo revelava aos anjos os mistérios de Seu reino, ficou ali silencioso, como que guardando para Si um segredo. As trevas daquele abismo consistiam no teste da fidelidade. Voltando-Se para as hostes, o Eterno solenemente afirmou:
-"Todos os tesouros da luz estarão abertos ao vosso conhecimento, menos os segredos ocultos pelas trevas. Sois livres para me servirem ou não. Amando a luz estareis ligados à Fonte da Vida".
Com estas palavras, fez Deus separação entre a luz e as trevas, o bem e o mal. O Universo era livre para escolher seu destino.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Osvaldianos.....
Alguns dias atrás uma notícia triste foi anunciada em um lugar sagrado. Não que em lugares sagrados não se possa escutar notícias tristes, não é isso. É que neste lugar, quando se fala em coisas ruins, é para a edificação do corpo e da mente. Dessa vez foi diferente pois em nada nos edificou, apenas nos deixou chateados e maquinando o que poderia ser feito para reverter essa situação. Essa notícia que chegou sem nenhum argumento ou chance de defesa, para que nosso amigo e professor Osvaldo pudesse argumentar. Talvez tenha sido assim por medo dos argumentos.
Esses homens que mandam e desmandam não conhecem nosso amigo Osvaldo, apenas alimentam impressões sobre sua pessoa, pois se o conhecessem saberiam a preciosidade que tinham como funcionário. Homem que cantarolava cantigas antigas, que sempre admirou o evangelho, mas mais do que isso, colocava em prática. Homem que sempre foi a favor da honestidade, coisa que está em falta hoje em dia. Mesmo sem conhecerem este lado pastoral, se é que se pode chamar assim, mandaram nosso grande amigo embora. Talvez eles estejam vivendo um ditado popular que diz: a primeira impressão é a que fica. Mas aí cabe uma pergunta: Qual impressão? A impressão de um leão que cuida dos seus filhotes quando esses são atacados ou de um pai que fica ao lado do filho mesmo quando estes não estão certos. Acredito que foi essa impressão que eles não gostaram.
Bom, o lugar sagrado foi profanado, não pela notícia, mas pela forma covarde em que ela foi anunciada, onde não deu chances de defesa. As notícias anunciadas dessa forma não dão ao ouvinte chances de defesa, onde o acusador também ouve o que precisa, onde o lado da verdade ganha. Não é uma verdade de poder e sim uma verdade verdadeira, sem politicagens.
Fica aqui meu profundo despontamento com os homens que fizeram do lugar sagrado um lugar profano onde a guilhotina não tem dó e onde o réu é réu só porque homens se acham no direito de assim fazer.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Talvez
Uma vida cheia de talvez
Talvez cheio de vida
Sem duvida, sem certeza
Cheia de talvez.
A vida é assim cheia.
Respostas para fazer
De perguntas sem resolver
Cheia de talvez.
Talvez um dia acabe
As perguntas,
Se encontre as respostas
E a vida se esvazie do talvez.
Que eu encontre logo
Este lugar celestial
Cheio de respostas as perguntas
Pra minha vida cheia de talvez.
Autor: Leanderson
terça-feira, 20 de abril de 2010
A controvérsia monotelita - O Terceiro Concílio (in Trullo) de Constantinopla (681)
[Calcedônia provocara o cisma monifisita do Oriente e a tendência monofisita do segundo Concílio de Constantinopla não revogara a definição calcedoniana. Entrementes, a ameaça que os persas e os árabes representavam para o império do Oriente tornara o cisma um perigo político. Ciro, patriarca de Alexandria, encorajado pelo Imperador Heráclio, sugeriu ao Papa Honório que os cismáticos poderiam ser reconciliados por uma fórmula (proposta por Sérgio de Constantinopla) que admitiu que as duas naturezas mas uma só “operação ou vontade divino-humana” (enérgei è thélêma). Honório, que parece ter considerado a terminologia como coisa indiferente, sobre a base de que a impecável vontade humana de Cristo não podia estar em conflito com sua vontade divina e que as duas vontades agindo em uníssono, não podem se distinguir de uma só vontade, concordou com essa fórmula “monotelita”, a qual foi publicada por Heráclito na Echtesis, em 638. Mas os sucessores de Honório viram aí uma ponta de lança monofisita e, em 649, Martinho condenou a Echtesis. Seguiu-se um cisma que durou até 681, quando a conquista árabe do Egito e da Síria terminou com toda a motivação para se buscar uma reconciliação com os monofisitas às custas do Ocidente. O imperador depôs o patriarca, pediu orientação ao Papa Ágato e um concílio – contado com sendo o sexto ecumênico – se reuniu no Trullus (recinto abobadado) do palácio. Os monotelitas – inclusive Honório – foram condenados e o cisma terminou.
Depois da repetição da doutrina calcedonense sobre a pessoa de Cristo, a definição se expressa assim:]
Pregamos também duas vontades naturais nele, bem como duas operações naturais (enérgeiai), sem divisão, sem mudança, sem separação, sem partilha, sem confusão. Isto pregamos de acordo com a doutrina dos santos padres. Duas vontades naturais, não contrarias (que Deus o afaste), como afirmam os ímpios hereges, mas sua vontade humana seguindo a vontade divina e onipotente, não lhe resistindo, nem se lhe opondo, mas antes sujeita à vontade divina, segundo o sapientíssimo Atanásio. Porque assim como se diz que sua carne pertence a Deus Verbo, como de fato pertence; ele mesmo o diz: “Desci do céu não para fazer minha própria vontade, mas a vontade do Pai que me enviou” (Jo 6.38), designando como “própria” a vontade da carne, visto que a carne se tornou sua própria carne.
Portanto, assim como sua santíssima e imaculada carne, vivificada pela alma, não foi destruída ao ser deificada, mas continuou no seu próprio estado e esfera, assim também sua vontade humana não foi destruída ao ser deificada, mas antes foi preservada, como diz Gregório, o teólogo: “Pois o querer que entendemos ser um ato da vontade do Salvador não é contrário a Deus, mas inteiramente deificado”.
Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã (SP: ASTE/Simpósio, 1998), pp. 161-162.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Saudades.
Saudade da minha infância, pois não tinha preocupação com conta, apenas brincava.
Saudade da minha adolescência, pois era o tempo das descobertas.
Saudade da minha casa, que saudade. Na minha casa sempre tive meus pais, meus amigos. Como eu gostava de ir à casa dos meus amigos e passar o dia com eles. Já não faço mais isso, pois alguns amigos casaram, outros foram embora. Também não posso esquecer-me dos meus irmãos. Como sinto saudades. A saudade acredito ser um bom sinal. Sei que ela me faz lembrar todos, e todos os momentos vividos juntos.
Saudade da minha inocência, tempo que eu não ficava doente por descobrir tantas coisas ruins.
Saudade, como sinto falta do colo da minha tia onde sempre chorei, da casa da minha avó onde passava um bom tempo com ela. Saudade da minha amada mãe, que mulher guerreira, nunca desistiu de nada, sempre foi até o fim. Meu pai, homem teimoso, mas que saudade.
Hoje acordei com uma saudade louca de passar tudo isso novamente, pais, irmãos, amigos. Vontade de matar minhas saudades voltando no tempo. Sei que não posso voltar no tempo, só me restam recordações e com elas que eu vivo. São as recordações de tudo isso que me fazem acreditar no amanhã. Saudade, o sentimentinho doído, que rasga a alma, que faz as lágrimas molhar nossa face e regar nossa esperança. Mas com faz bem a saudade.
Hoje senti e não foi pouca, mas muita saudade.
domingo, 18 de abril de 2010
Crônica do Amor
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?
Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?
Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.
Arnaldo Jabor
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Dores que nos transformam.
Nestes últimos anos de vida já passei por poucas e boas e sei bem o que Paulo diz na sua carta aos Filipenses: “Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece.” Tenho experimentado na pele.
A vida é uma caixa de surpresas, algumas boas, outras nem tanto. Mas sei que posso todas as coisas olhando para meu Cristo. Às vezes me disperso no olhar, mas logo volto. Assim é nossa vida, cheia de altos e baixos, mas precisamos aprender a viver neste contexto. Nem tudo são flores.
Aprendo que no caminho da vida, passaremos por quase todo o tipo de experiência. Sei também que só aprendo a ser dependente de DEUS, dependendo dele.
As dores nos transformam em indivíduos maduros para realidade, em homens e mulheres que gostam de aproveitar cada instante da vida mesmo passando pela dor. A dor precisa nos transformar, nos fazer caminhar, olhar para vida com mais esperança.
A vida é uma caixa de surpresas, algumas boas, outras nem tanto. Mas sei que posso todas as coisas olhando para meu Cristo. Às vezes me disperso no olhar, mas logo volto. Assim é nossa vida, cheia de altos e baixos, mas precisamos aprender a viver neste contexto. Nem tudo são flores.
Aprendo que no caminho da vida, passaremos por quase todo o tipo de experiência. Sei também que só aprendo a ser dependente de DEUS, dependendo dele.
As dores nos transformam em indivíduos maduros para realidade, em homens e mulheres que gostam de aproveitar cada instante da vida mesmo passando pela dor. A dor precisa nos transformar, nos fazer caminhar, olhar para vida com mais esperança.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
João Calvino: Vida e teologia.
Contexto histórico.
A dois séculos antes mais ou menos de acontecer a reforma protestante os precursores deste movimento haviam, com sua próprias vidas, plantado um pouco daquilo que seriam os idéias sócio-econômico-cultural-político religioso reformadores. Homens como Jhon Huss e Wycliff gozavam tanto de um sucesso como de um insucesso na implantação de seus ideais.
Neste mesmo intento de reforma a igreja cristã um homem chamado Martinho Lutero dá inicio ao que conhecemos como reforma protestante. Passo a passo ele foi rompendo com a teologia, tradição e pratica da Igreja Católica Romana até que em 31 de outubro de 1517 ele pregou nas portas da igreja de Wittenburg as suas 95 teses contra a venda de indulgência. Não somente estas teses como também outras obras de Lutero foram traduzidas para diversas outras línguas o que facilitou a propagação dos idéias reformadores e sua desarraigarão da igreja católica.
A maior parte dos monges, antes indiferente ao que ocorria fora dos conventos deixou seus claustros para pregar o evangelho do Novo Testamento. Nesse tempo, não poucos sacerdotes romanos tomaram-se luteranos, sendo o exemplo deles seguido por muitos fieis de suas paróquias. Também, não poucos bispos fizeram o mesmo. Muitos humanistas famosos dedicaram sua cultura propagando e defendendo a nova expressão do Cristianismo.
A Reforma, já fora dos limites da Alemanha, estava produzindo considerável alteração no modo de vida do povo em outras regiões da Europa. Deixou de ser um movimento de conotação simplesmente anti-papal, para se tornar-se um dos maiores avivamentos religiosos da História da Igreja. Surgiram logo depois, muitos outros movimentos reformadores, paralelos, destacando-se precisamente na Suíça, França, Escócia e Inglaterra.
Neste contesto nasce e cresce aquele que seria o teólogo mais influente ao protestantismo pós- luterano.
Vida de Calvino.
No dia dez de julho de 1509, em Noyon Picardia, norte da França, nasceu Jean Cauvin, filho de Gerard Cauvin e Jeanne Le Franc de Cambrai. Nesta época Lutero já havia pregado suas primeiras conferencias na Universidade de Witteberg. Calvino era aproximadamente 26 anos mais novo que Lutero, o que fazia dele pertecente á segunda geração da reforma protestante.
Seu pai pertencia a classe média da sociedade de Noyon, e com o exercício do secretariado do bispo e procurador da biblioteca da Catedral procurou oferecer ao seu filho João os benefícios eclesiástico com os quais iria custear seus estudos.
Aos três anos de idade Calvino perde, para a morte, sua simples calma piedosa, bela e religiosa mãe.
Ele teve sua infância em dias que a Igreja Romana e suas crendices tinham forte influência sobre o povo que se dispunha a crer em qualquer coisa absurda. A igreja dizia possuir fios de cabelo de João Batista, um dente do Senhor Jesus, um pedaço de maná do Antigo Testamento, algumas migalhas que sobraram da primeira multiplicação dos pães e alguns fragmentos da coroa de espinhos usada por Jesus.
Deste muito pequeno Calvino aprendeu as polidas maneiras da sociedade, isto em decorrência das suas relações muito próxima com a nobre e poderosa família dos Montmor.
Quando Calvino tinha apenas 12 anos de idade ele foi nomeado capelão da Catedral de Noyon, tronando-se assim membros do clero. Evidentemente ele não possuía todas as ordens sacerdotais mas o suficiente para lhe conferir ao lucros do benefícios eclesiástico.
Aos 14 anos de idade Calvino foi enviado ao Colégio Montaigri, em Paris, onde dedicou-se as artes liberais e mais tarde iria estudar teologia. Como estudante ele era excepcional e se avantajava em muito aos seus companheiros. Era um rapaz de baixa estatura, organismo fraco e delicado, feição pálida , olhar brilhante, muito inteligente e de firme caráter. Era tímido, irritável, muito austero, organizado, inflexível. Muito disso sabemos graças a sua biografia escrita por seu sucessor, Teodoro de Beza. Em Paris aprendeu bem latim e foi instruído na filosofia e na dialética completando seu curso de graduação no começo de 1528.
Aos dezoito anos foi nomeado para outro cargo eclesiástico o de pároco de S. Martinho de Marteville, no entanto ele não era sacerdote. Posteriormente Calvino veio a abrir mão do seu primeiro cargo eclesiástico em favor de seu irmão mais novo e trocou Marteville por Pontievê. Em 1534 abdicou a este segundo cargo.
Dizem que Calvino era conhecido entre seus colegas como ‘caso acusativo’ por estar sempre censurando-os e criticando severamente as suas falhas.
Por causa de um desentendimento de seu pai em 1528 com autoridades eclesiásticas a respeito de questões financeiras, Calvino foi transferido para a Universidade de Orleans e Burges, onde de acordo com a vontade de seu pai, agora excomungado, estudaria direito. Em Bourges, sob a influencia do alemão Melchior Wolmar, aluno de Lutero, passou a estudar grego e assim teve acesso ao Novo Testamento grego de Erasmo de Roterdã. Lá também abteve fortes influencias humanicista.
Com o falecimento do pai em 1531 e o termino da faculdade jurisprudência, mesmo nunca ter sido de seu agrado, Calvino passou a tomar suas próprias decisões e assim seguir seu desejo: esforçar-se no estudo das letras, tanto línguas (grego, hebraico e latim) com literatura. Ele assim o fez no Colégio Royal de França, uma instituição humanista fundada pelo rei Francisco I em 1530. Para lá fora a fim de estudar sob a direção um dos mais eminentes humanistas da época.
Entre a conclusão do seu comentário sobre a obra “Sobre a Clemência”de Sêneca e o fim do ano seguinte Calvino se converteu, adotando as idéias da Reforama e dispensado imediatamente o dinheiro das rendas eclesiásticas. No prefacio do seu comentário sobre o livro de Salmos ele escreveu um pouco sobre sua conversão: visto que eu estava mais teimosamente preso ás superstições do papado do que era possível desvencilhar-me de tão profundo lamaçal. Deus subjugou o meu coração da obstinação de minha idade para a docilidade de uma subida conversão. Forçado a abandonar a França, em 1534, por colaborar com Nicholas Cop, reitor da Universidade de Paris, na elaboração de um documento, recheado de humanismo e de Reforma, seguiu para Basiléia
Em Basiléia, uma cidade protestante, Calvino termina a sua maior obra teológica a “ Instituto Religionis Chistianae”, obra que teve de ser terminada as pressas em decorrência da necessidade de se defender os protestantes das acusações, perseguições executadas pelo rei Francisco I. “Na dedicatória, João Calvino pede que o rei faça uma distinção entre os ‘piedosos”, os verdadeiros adeptos do Evangelho, e os entusiastas, pois eram estes que provocavam a desordem no Estado.
A boa aceitação das Institutas motivou Calvino a continuar seus estudos teológicos e a transferir-se para Estrasburgo. A caminho de Estrasburgo, uma cidade protestante, ela parou par pernoitar em Genebra. Nesta cidade foi abordado Guilherme Farel, que defendia por não se contentar que Calvino estaria em Genebra. Farel o abordou por não se contentar que Calvino estaria lá só de passagem e a igreja com todos os seu problemas e necessidade a parecer.
Depois de muita argumentação e contra-argumentação entre Farel e Calvino, Farel sem conseguir convencer o jovem teólogo a ficar em Genebra apelou ao Senhor de ambos e insurgiu contra o teólogo com voz estridente: “ Deus amaldiçoe teu descanso e a tranqüilidade que busca para estudar, se diante de uma necessidade tão grande te retiras e te negas a prestar socorro e ajuda”.
Diante de enfático apelo de Farel cedeu e ficou em Genebra dias depois Calvino mesmo confessou: Senti....como se Deus tivesse estendido a sua mão do céu em minha direção para me prender... Fiquei tão aterrorizado que interrompi a viagem que havia encetado....Guilherme Farel me reteve em Genebra.
Inicialmente seu trabalho em Genebra foi um fracasso pois as pessoas não estavam dispostas a aceitarem as reformas calvinistas, o que acabou resultando na sua expulsão de Genebra em 1538. Levou três anos para o povo reconhecer as capacidades e intentos de Calvino, e em 1541 o convidam a voltar a Genebra, apelo que ele atendeu gratamente, porém não sem relutância.
Em Estrasburgo, agosto de 1540, Calvino casou-se com Idallete de Bure, viúva de um pastor anabatista e mãe de duas crianças, com quem foi feliz até que a morte a levou em 1549. Tiveram um único filho, o qual morreu ainda muito novo.
O período de 1548 a 1555 foi marcado na vida de Calvino pelas extensas e excessivas lutas contra hereges da cidade de Genebra, sendo que estas lutas tiveram o seu ápice na condenação e execução, por Calvino e aos seus , de Miguel Servetto em 1553. Em 1559 Calvino viu cumprir-se um dos seu sonhos, ao ser fundada a Univercidade de Genebra com um sistema de educação baseado em três níveis o qual seria um modelo educacional para a posteridade imediata .
Morte.
Calvino, que nunca fora robusto, morreu moço. Pregou seu ultimo sermão no dia seis de fevereiro de 1564 e faleceu a 27 de maio do mesmo ano, contando apenas 55 anos incompletos. A maravilha, porém, está em que não obstante as fraquezas físicas,as lutas incessantes e o trabalho excessivo , ele pudesse ter resistido tanto tempo. Somente a vida moderada e a força de vontade extraordinária podiam levá-lo tão longe.
Sua teologia.
Totalidade da depravação humana, entendendo que o homem herdou a culpa do pecado de Adão e nada pode fazer por sua salvação, uma vez que a sua vontade está totalmente corrompida. Calvino ensinava que a salvação é um assunto de eleição incondicional e independe do mérito humano ou da presciência de Deus: a eleição é fundamentada na sabedoria da vontade de Deus, havendo uma predestinação dupla, para a salvação e para a perdição. Calvino concebia ainda a limitação da redenção, ao propor que a obra de Cristo na cruz é restringida aos eleitos para a salvação. A doutrina da irresistibilidade da graça é necessária, então: o eleito é salvo independentemente de sua vontade, pois o Espírito santo o dirige irresistivelmente para Cristo. A perseverança dos santos é ponto final do seu sistema, os eleitos, irresistivelmente salvos pela obra do espírito santo, já mais se perderão.
Coordena sua teologia a idéia da sabedoria absoluta de Deus. Calvino tinha uma concepção majestosa de Deus, a exemplo da alguns dos profetas do Antigo Testamento. João Calvino foi um profundo conhecedor e estudioso das escrituras, toda sua teologia partiu das escrituras ele a partir daí apoiar nos escritos dos pais da igreja dos quais Agostinho é o seu preferido. Sua teologia e essencialmente bíblica.
A dois séculos antes mais ou menos de acontecer a reforma protestante os precursores deste movimento haviam, com sua próprias vidas, plantado um pouco daquilo que seriam os idéias sócio-econômico-cultural-político religioso reformadores. Homens como Jhon Huss e Wycliff gozavam tanto de um sucesso como de um insucesso na implantação de seus ideais.
Neste mesmo intento de reforma a igreja cristã um homem chamado Martinho Lutero dá inicio ao que conhecemos como reforma protestante. Passo a passo ele foi rompendo com a teologia, tradição e pratica da Igreja Católica Romana até que em 31 de outubro de 1517 ele pregou nas portas da igreja de Wittenburg as suas 95 teses contra a venda de indulgência. Não somente estas teses como também outras obras de Lutero foram traduzidas para diversas outras línguas o que facilitou a propagação dos idéias reformadores e sua desarraigarão da igreja católica.
A maior parte dos monges, antes indiferente ao que ocorria fora dos conventos deixou seus claustros para pregar o evangelho do Novo Testamento. Nesse tempo, não poucos sacerdotes romanos tomaram-se luteranos, sendo o exemplo deles seguido por muitos fieis de suas paróquias. Também, não poucos bispos fizeram o mesmo. Muitos humanistas famosos dedicaram sua cultura propagando e defendendo a nova expressão do Cristianismo.
A Reforma, já fora dos limites da Alemanha, estava produzindo considerável alteração no modo de vida do povo em outras regiões da Europa. Deixou de ser um movimento de conotação simplesmente anti-papal, para se tornar-se um dos maiores avivamentos religiosos da História da Igreja. Surgiram logo depois, muitos outros movimentos reformadores, paralelos, destacando-se precisamente na Suíça, França, Escócia e Inglaterra.
Neste contesto nasce e cresce aquele que seria o teólogo mais influente ao protestantismo pós- luterano.
Vida de Calvino.
No dia dez de julho de 1509, em Noyon Picardia, norte da França, nasceu Jean Cauvin, filho de Gerard Cauvin e Jeanne Le Franc de Cambrai. Nesta época Lutero já havia pregado suas primeiras conferencias na Universidade de Witteberg. Calvino era aproximadamente 26 anos mais novo que Lutero, o que fazia dele pertecente á segunda geração da reforma protestante.
Seu pai pertencia a classe média da sociedade de Noyon, e com o exercício do secretariado do bispo e procurador da biblioteca da Catedral procurou oferecer ao seu filho João os benefícios eclesiástico com os quais iria custear seus estudos.
Aos três anos de idade Calvino perde, para a morte, sua simples calma piedosa, bela e religiosa mãe.
Ele teve sua infância em dias que a Igreja Romana e suas crendices tinham forte influência sobre o povo que se dispunha a crer em qualquer coisa absurda. A igreja dizia possuir fios de cabelo de João Batista, um dente do Senhor Jesus, um pedaço de maná do Antigo Testamento, algumas migalhas que sobraram da primeira multiplicação dos pães e alguns fragmentos da coroa de espinhos usada por Jesus.
Deste muito pequeno Calvino aprendeu as polidas maneiras da sociedade, isto em decorrência das suas relações muito próxima com a nobre e poderosa família dos Montmor.
Quando Calvino tinha apenas 12 anos de idade ele foi nomeado capelão da Catedral de Noyon, tronando-se assim membros do clero. Evidentemente ele não possuía todas as ordens sacerdotais mas o suficiente para lhe conferir ao lucros do benefícios eclesiástico.
Aos 14 anos de idade Calvino foi enviado ao Colégio Montaigri, em Paris, onde dedicou-se as artes liberais e mais tarde iria estudar teologia. Como estudante ele era excepcional e se avantajava em muito aos seus companheiros. Era um rapaz de baixa estatura, organismo fraco e delicado, feição pálida , olhar brilhante, muito inteligente e de firme caráter. Era tímido, irritável, muito austero, organizado, inflexível. Muito disso sabemos graças a sua biografia escrita por seu sucessor, Teodoro de Beza. Em Paris aprendeu bem latim e foi instruído na filosofia e na dialética completando seu curso de graduação no começo de 1528.
Aos dezoito anos foi nomeado para outro cargo eclesiástico o de pároco de S. Martinho de Marteville, no entanto ele não era sacerdote. Posteriormente Calvino veio a abrir mão do seu primeiro cargo eclesiástico em favor de seu irmão mais novo e trocou Marteville por Pontievê. Em 1534 abdicou a este segundo cargo.
Dizem que Calvino era conhecido entre seus colegas como ‘caso acusativo’ por estar sempre censurando-os e criticando severamente as suas falhas.
Por causa de um desentendimento de seu pai em 1528 com autoridades eclesiásticas a respeito de questões financeiras, Calvino foi transferido para a Universidade de Orleans e Burges, onde de acordo com a vontade de seu pai, agora excomungado, estudaria direito. Em Bourges, sob a influencia do alemão Melchior Wolmar, aluno de Lutero, passou a estudar grego e assim teve acesso ao Novo Testamento grego de Erasmo de Roterdã. Lá também abteve fortes influencias humanicista.
Com o falecimento do pai em 1531 e o termino da faculdade jurisprudência, mesmo nunca ter sido de seu agrado, Calvino passou a tomar suas próprias decisões e assim seguir seu desejo: esforçar-se no estudo das letras, tanto línguas (grego, hebraico e latim) com literatura. Ele assim o fez no Colégio Royal de França, uma instituição humanista fundada pelo rei Francisco I em 1530. Para lá fora a fim de estudar sob a direção um dos mais eminentes humanistas da época.
Entre a conclusão do seu comentário sobre a obra “Sobre a Clemência”de Sêneca e o fim do ano seguinte Calvino se converteu, adotando as idéias da Reforama e dispensado imediatamente o dinheiro das rendas eclesiásticas. No prefacio do seu comentário sobre o livro de Salmos ele escreveu um pouco sobre sua conversão: visto que eu estava mais teimosamente preso ás superstições do papado do que era possível desvencilhar-me de tão profundo lamaçal. Deus subjugou o meu coração da obstinação de minha idade para a docilidade de uma subida conversão. Forçado a abandonar a França, em 1534, por colaborar com Nicholas Cop, reitor da Universidade de Paris, na elaboração de um documento, recheado de humanismo e de Reforma, seguiu para Basiléia
Em Basiléia, uma cidade protestante, Calvino termina a sua maior obra teológica a “ Instituto Religionis Chistianae”, obra que teve de ser terminada as pressas em decorrência da necessidade de se defender os protestantes das acusações, perseguições executadas pelo rei Francisco I. “Na dedicatória, João Calvino pede que o rei faça uma distinção entre os ‘piedosos”, os verdadeiros adeptos do Evangelho, e os entusiastas, pois eram estes que provocavam a desordem no Estado.
A boa aceitação das Institutas motivou Calvino a continuar seus estudos teológicos e a transferir-se para Estrasburgo. A caminho de Estrasburgo, uma cidade protestante, ela parou par pernoitar em Genebra. Nesta cidade foi abordado Guilherme Farel, que defendia por não se contentar que Calvino estaria em Genebra. Farel o abordou por não se contentar que Calvino estaria lá só de passagem e a igreja com todos os seu problemas e necessidade a parecer.
Depois de muita argumentação e contra-argumentação entre Farel e Calvino, Farel sem conseguir convencer o jovem teólogo a ficar em Genebra apelou ao Senhor de ambos e insurgiu contra o teólogo com voz estridente: “ Deus amaldiçoe teu descanso e a tranqüilidade que busca para estudar, se diante de uma necessidade tão grande te retiras e te negas a prestar socorro e ajuda”.
Diante de enfático apelo de Farel cedeu e ficou em Genebra dias depois Calvino mesmo confessou: Senti....como se Deus tivesse estendido a sua mão do céu em minha direção para me prender... Fiquei tão aterrorizado que interrompi a viagem que havia encetado....Guilherme Farel me reteve em Genebra.
Inicialmente seu trabalho em Genebra foi um fracasso pois as pessoas não estavam dispostas a aceitarem as reformas calvinistas, o que acabou resultando na sua expulsão de Genebra em 1538. Levou três anos para o povo reconhecer as capacidades e intentos de Calvino, e em 1541 o convidam a voltar a Genebra, apelo que ele atendeu gratamente, porém não sem relutância.
Em Estrasburgo, agosto de 1540, Calvino casou-se com Idallete de Bure, viúva de um pastor anabatista e mãe de duas crianças, com quem foi feliz até que a morte a levou em 1549. Tiveram um único filho, o qual morreu ainda muito novo.
O período de 1548 a 1555 foi marcado na vida de Calvino pelas extensas e excessivas lutas contra hereges da cidade de Genebra, sendo que estas lutas tiveram o seu ápice na condenação e execução, por Calvino e aos seus , de Miguel Servetto em 1553. Em 1559 Calvino viu cumprir-se um dos seu sonhos, ao ser fundada a Univercidade de Genebra com um sistema de educação baseado em três níveis o qual seria um modelo educacional para a posteridade imediata .
Morte.
Calvino, que nunca fora robusto, morreu moço. Pregou seu ultimo sermão no dia seis de fevereiro de 1564 e faleceu a 27 de maio do mesmo ano, contando apenas 55 anos incompletos. A maravilha, porém, está em que não obstante as fraquezas físicas,as lutas incessantes e o trabalho excessivo , ele pudesse ter resistido tanto tempo. Somente a vida moderada e a força de vontade extraordinária podiam levá-lo tão longe.
Sua teologia.
Totalidade da depravação humana, entendendo que o homem herdou a culpa do pecado de Adão e nada pode fazer por sua salvação, uma vez que a sua vontade está totalmente corrompida. Calvino ensinava que a salvação é um assunto de eleição incondicional e independe do mérito humano ou da presciência de Deus: a eleição é fundamentada na sabedoria da vontade de Deus, havendo uma predestinação dupla, para a salvação e para a perdição. Calvino concebia ainda a limitação da redenção, ao propor que a obra de Cristo na cruz é restringida aos eleitos para a salvação. A doutrina da irresistibilidade da graça é necessária, então: o eleito é salvo independentemente de sua vontade, pois o Espírito santo o dirige irresistivelmente para Cristo. A perseverança dos santos é ponto final do seu sistema, os eleitos, irresistivelmente salvos pela obra do espírito santo, já mais se perderão.
Coordena sua teologia a idéia da sabedoria absoluta de Deus. Calvino tinha uma concepção majestosa de Deus, a exemplo da alguns dos profetas do Antigo Testamento. João Calvino foi um profundo conhecedor e estudioso das escrituras, toda sua teologia partiu das escrituras ele a partir daí apoiar nos escritos dos pais da igreja dos quais Agostinho é o seu preferido. Sua teologia e essencialmente bíblica.
Efésios.
Cristo à convivência das pessoas na igreja local, como também ao casamento, família a profissão. Também para essas situações Jesus é a paz.
Linguagem e estilo.
Não é possível que um autor use novas formas de expressão em uma nova situação. Isso pode ser causado pelas suas condições pessoais, mas muito mais pelas condições dos seus leitores. Afinal ele está escrevendo para a situação deles e querem eles o entendam. Colossenses é uma prova dessa capacidade de adaptação do apostolo Paulo.
Se alguém quer usar argumento contra um autor a linguagem não habitual do escrito em questão, precisa demonstrar que aquele autor não poderia em hipótese alguma, ter usado as termos do seu escrito . Seria muito difícil provar isso em relação a Efésios. O mesmo vale também para construções gramaticais.
Na verdade, o que chama a atenção é a diferença de estilo. Na primeira parte da carta, o que se destaca são os períodos longos e o acumulo de conceitos. Não teria sido possível que Paulo estivesse numa situação tranqüila, sem ter de defender o evangelho contra opositores, e formulasse a sua carta em forma de reflexão e de poesia?
Se de fato houve um imitador, como teria errado tão fragorosamente na primeira parte da carta? Não seria de se esperar um proximidade maior com os escritos do apostolo? Se houve esse imitador, foi um artista extra-ordinário.
Conclusão.
A carta aos Efésios e uma bela carta disso não tenho duvidas, mas as que eu tenho e de quem realmente a escreveu. Sei que a apenas uma hipótese sobre o assunto, não uma certeza. A plausibilidade pelas evidências do estilo e como Paulo aborda o assunto de que realmente não foi ele que a escreveu.
FOULKES,Francis. Introdução e comentário. Ed. Vida Nova. São Paulo, SP. 1981.
HORSTER, Gerhad. Introdução e síntese do Novo Testamento. Ed. Evangélica Esperança Curitiba Pr. 1996.
HALE, Broadus David. Introdução a Novo Testamento. Ed. Hagnus. São Paulo, SP. 2001
KUMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. Ed, Paulus. São Paulo, SP. 1982.
VAUGHAM, Curtis. Efésio, comentário bíblico. Ed vida, EUA, Miami, Florida, 1986
ZERWICK, Max. A epistola aos efésios. 2a ª Ed. ,Vozes; .Petropolis, RJ. 1984
Linguagem e estilo.
Não é possível que um autor use novas formas de expressão em uma nova situação. Isso pode ser causado pelas suas condições pessoais, mas muito mais pelas condições dos seus leitores. Afinal ele está escrevendo para a situação deles e querem eles o entendam. Colossenses é uma prova dessa capacidade de adaptação do apostolo Paulo.
Se alguém quer usar argumento contra um autor a linguagem não habitual do escrito em questão, precisa demonstrar que aquele autor não poderia em hipótese alguma, ter usado as termos do seu escrito . Seria muito difícil provar isso em relação a Efésios. O mesmo vale também para construções gramaticais.
Na verdade, o que chama a atenção é a diferença de estilo. Na primeira parte da carta, o que se destaca são os períodos longos e o acumulo de conceitos. Não teria sido possível que Paulo estivesse numa situação tranqüila, sem ter de defender o evangelho contra opositores, e formulasse a sua carta em forma de reflexão e de poesia?
Se de fato houve um imitador, como teria errado tão fragorosamente na primeira parte da carta? Não seria de se esperar um proximidade maior com os escritos do apostolo? Se houve esse imitador, foi um artista extra-ordinário.
Conclusão.
A carta aos Efésios e uma bela carta disso não tenho duvidas, mas as que eu tenho e de quem realmente a escreveu. Sei que a apenas uma hipótese sobre o assunto, não uma certeza. A plausibilidade pelas evidências do estilo e como Paulo aborda o assunto de que realmente não foi ele que a escreveu.
FOULKES,Francis. Introdução e comentário. Ed. Vida Nova. São Paulo, SP. 1981.
HORSTER, Gerhad. Introdução e síntese do Novo Testamento. Ed. Evangélica Esperança Curitiba Pr. 1996.
HALE, Broadus David. Introdução a Novo Testamento. Ed. Hagnus. São Paulo, SP. 2001
KUMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. Ed, Paulus. São Paulo, SP. 1982.
VAUGHAM, Curtis. Efésio, comentário bíblico. Ed vida, EUA, Miami, Florida, 1986
ZERWICK, Max. A epistola aos efésios. 2a ª Ed. ,Vozes; .Petropolis, RJ. 1984
terça-feira, 13 de abril de 2010
Credo dos Apostólos.
O CREDO DOS APOSTÓLOS
[O Credo Apostólico, tal como o conhecemos, encontra-se pela primeira vez em Dicta Abbatis Pirminii de singulis libris canonicis scarapsusu (= excerptus, excerto), c. 750.]
Creio em Deus, o Pai onipotente, Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos, no terceiro dia ressucitou dos mortos, subiu aos céus, está sentado à destra de Deus, o Pai onipotente, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo, a santa igreja católica [cristã] , a comunhão dos santos, a remissão dos pecados, a ressurreição da carne e a vida eterna. Amém.
Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã (SP: ASTE/Simpósio, 1998), p. 61.
O CREDO “NICENO” (381)
[Encontra-se em Epifânio, Ancoratus, 118, c. 374 d.C., e parece ter sido extraído por estudiosos, quase palavra por palavra, das leituras catequéticas de Cirilo de Alexandria. Foi lido e aprovado em Calcedônia, 451, como sendo o credo dos 318 padres conciliares de Nicéia e dos 150 padres que “se reuniram em outra oportunidade” (isto é, em Constantinopla, 381). Daí ser freqüentemente mencionado como “credo de Constantinopla” ou “credo niceno-constantinopolitano”. Muitos críticos opinam ser a revisão do credo de Jerusalém transmitido a Cirilo.]
Creio em um só Deus, o Pai onipotente, criador do céu da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo, filho unigênito de Deus e nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai, por quem foram feitas todas as coisas; o qual por amor de nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, e encarnou, pelo Espírito Santo, na virgem Maria, e se fez homem; foi também crucificado em nosso favor sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado; e ao terceiro dia ressuscitou, segundo as Escrituras; e subiu aos céus; está sentado à destra do Pai, e virá pela segunda vez, em glória, para julgar os vivos e os mortos; e seu reino não terá fim.
E no Espírito Santo, Senhor e vivificador, o qual procede do Pai,[1] que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; que falou pelos profetas.
E a igreja, una, santa, católica [cristã] e apostólica.
Confesso um só batismo, para a remissão dos pecados, e espero a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro. Amém.
Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã (SP: ASTE/Simpósio, 1998), p. 63-64.
DEFINIÇÃO DE FÉ DE CALCEDÔNIA (451)
Fiéis aos santos padres, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve con-fessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, per-feito quanto à humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, constando de alma raci-onal e de corpo; consubstancial [hommoysios] ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; “em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado”, gerado segundo a divindade antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos];
Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas nature-zas, inconfundíveis e imutáveis, conseparáveis e indivisíveis;[2] a distinção da naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência [hypóstasis]; não dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos transmitiu.
Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã (SP: ASTE/Simpósio, 1998), p. 101.
O CREDO DE ATANÁSIO (escrito contra os arianos)
(1) Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo deve professar a fé católica [cristã]. (2) Quem quer que não a conserve íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá eternamente.
(3) E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade (4) e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância.
(5) Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; (6) mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
(7) Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo.
(8) Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo.
(9) Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo.
(10) Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo; (11) contudo, não são três eternos, mas um único eterno; (12) Como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso.
(13) Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito é onipotente; (14) contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.
(15) Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; (16)e todavia não há três Deuses, porém um único Deus.
(17) Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; (18) entretanto, não são três Senhores, porém um só Senhor.
(19) Porque, assim como pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor, assim também estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três Deuses ou três Senhores.
(20) O Pai por ninguem foi feito, nem criado, nem gerado.
(21) O Filho é só do Pai; não feito, nem criado, mas gerado.
(22) O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. (23) Há portanto, um único Pai, não Três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
(24) E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor; (25) porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que em tudo, conforme já ficou dito acima, deve ser venerada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade.
(26) Portanto, quem quer salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.
(27) Mas para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo.
(28) A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.
(29) É Deus, gerado da substância do Pai antes dos séculos, e é homem, nascido no mundo, da substância da mãe.
(30) Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana.
(31) Igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade.
(32) Ainda que é Deus e homem, todavia não há dois, porém um só Cristo.
(33) Um só, entretanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus.
(34) De todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa.
(35) Pois, assim como a alma racional e a carne é um só homem, assim Deus e homem é um só em Cristo; (36) o qual padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos, (37) subiu aos céus, está sentado à destra do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
(38) À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos; (39) e aqueles que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo eterno.
(40) Esta é a fé católica. Quem não crer com fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se.
[1] As adições “Deus de Deus” (do credo de Nicéia) e “(do Pai) e o Filho” ocorreram, pela primeira vez, no “credo de Constantinopla” como foi recitado no III Concílio de Toledo, em 589. A última frase, a “clausula filioque”, já tinha sido usada numa anterior Concílio de Toledo, em 477. Ela cresceu em popularidade no Ocidente e foi incluída em muitas versões do credo, excluindo-se o da Igreja de Roma, onde Leão III, em 809, recusou-se inseri-la. Mas, em 867, Nicolau I foi excomungado por Fócio, Bispo de Constantinopla, por ter corrompido o credo ao adiciona-la.
[2] Em dyo physesin, asygchytôs, atréptôs, adiairétôs, achôristôs.
II Concílio de Constantinopla.
Os “Três Capítulos” - Os cânones do Segundo Concílio de Constantinopla (533)
[As obras de três teólogos nestorianos ou seminestorianos, Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro e Ibas de Edessa, tinham sido resumidas como os “três capítulos” e aprovadas em Calcedônia. Mas os monofisitas pressionaram o Imperador Justiniano através de sua mulher Teodora, conseguindo que ele condenasse os “três capítulos” por um edito em 543. O Papa Virgílio foi persuadido, ou intimidado, a confirmar essa condenação, mas a opinião surgida no Ocidente o levou a solicitar a convocação de um concílio ecumênico, que se reuniu em Constantinopla e condenou os “capítulos”. Assim, “o Oriente foi reconciliado às custas do Ocidente” (M. Deanesley, History of the Medieval Church, p. 11).]
1. Se alguém não reconhece a única natureza ou substância (oysia) do Pai, Filho e Espírito Santo, sua única virtude e poder, uma Trindade consubstancial, uma só divindade adorada em três pessoas (hypostáseis) ou caracteres (prósôpa), seja anátema. Porque existe um só Deus e Pai, do qual procedem todas as coisas, e um só Senhor Jesus Cristo, através do qual são todas as coisas, e um só Espírito Santo, no qual estão todas as coisas.
2. Se alguém não confessa que há duas concepções do Verbo de Deus, uma antes dos tempos, do Pai, intemporal e incorporal, e a outra nos últimos dias, concepção da mesma pessoa, que desceu do céu e foi feito carne por obra do Espírito Santo e da gloriosa Genitora de Deus e sempre virgem Maria, e que dela nasceu, seja anátema.
3. Se alguém disser que existiu um Deus-Verbo, que fez os milagres, e um outro Cristo, que sofreu, ou que Deus, o Verbo, estava com Cristo quando nasceu de uma mulher, ou que estava nele como uma pessoa em outra, e que ele não era um só e o mesmo Senhor Jesus Cristo, encarnado e feito homem, e que os milagres e os sofrimentos que ele suportou voluntariamente na carne não pertenciam à mesma pessoa, seja anátema.
4. Se alguém disser que a união de Deus, o Verbo, com o homem, foi feita quanto à graça, ou à ação, ou à igualdade de honra ou autoridade, ou que era relativa ou temporária ou dinâmica,[1] ou que era conforme o beneplácito (do Verbo), sendo que o Deus Verbo se comprazia com o homem...
5. Se alguém conceber a única personalidade (hypóstasis) de nosso Senhor Jesus Cristo de tal modo que permita ver nela diversas personalidades, tentando introduzir por este meio duas personalidades ou caracteres no ministério de Cristo, dizendo que dessas duas personalidades introduzidas por ele provém uma única personalidade quanto à dignidade, à honra e à adoração, como Teodoro e Nestório escreveram em sua loucura, caluniando o santo Concílio de Calcedônia ao alegar que a expressão “uma personalidade” foi por ele usada com essa ímpia intenção; e se não confessar que o Verbo de Deus foi unido à carne quanto à personalidade (kath’hypóstasin)...
6. Se alguém aplicar à gloriosa e sempre virgem Maria o título de “genitora de Deus” (theotókos) num sentido irreal e não verdadeiro, como se um simples homem tivesse nascido dela e não o Deus Verbo feito carne e dela nascido, enquanto o nascimento só deve ser “relacionado” com Deus o Verbo, como dizem, porquanto ele estava com o homem que foi nascido...
10. Se alguém não confessar que aquele que foi crucificado na carne, Nosso Senhor Jesus Cristo, é o verdadeiro Deus e Senhor da glória, parte da santa Trindade, seja anátema...
[Os quatro cânones restantes tratam com mais pormenores das opiniões os três teólogos.]
Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã (SP: ASTE/Simpósio, 1998), pp. 159-160.
Minha visão
Quando olhamos para o próximo.
Quando olhamos só para nós mesmos esquecemos do mundo. Olhando somente para nosso próprio umbigo, fazemos o que nos agrada, somos sempre os beneficiados com tudo que está ao nosso redor, inclusive o dinheiro e tudo aquilo que possa nos dar um tipo de poder. Nosso maior obstáculo sempre será nós mesmos. Nossa ambição para sermos sempre os ganhadores, o ilustres de toda e qualquer situação, nos faz errantes e gananciosos. Pessoas que não se preocupam com outras. Homens que fazem de tudo para continuar olhando só para si mesmo.
Com este olhar fechando em si mesmo, o que acontece ao seu redor é secundário, tudo vira segundo plano. Até a família vira segundo ou terceiro plano. Não se pode enxergar tudo olhando para si mesmo. Não se vê a boa reputação indo embora, a honestidade, a ética escorrendo entre os dedos. Tudo isso vai embora quando olhamos para nós mesmos.
Nosso olhar precisa se firmar no próximo, ele precisa ser nosso norte. Não existimos sozinhos, nossos problemas não são os únicos. Há milhões de indivíduos neste planeta que precisam de um olhar atencioso. Mas se eu olhar apenas para meu umbigo como vou enxergar tal situação!?!
Precisamos fazer como o mestre, fazer do outro alguém importante, pois se não, nos perderemos olhando para nós mesmo. Somente quando olhamos para o próximo, não para condená-lo mas para aprendermos, conseguiremos fazer um Brasil melhor, pois agora não existo sozinho, existem outros comigo na mesma caminhada, rumo a um lugar melhor para se viver.
Quando olhamos só para nós mesmos esquecemos do mundo. Olhando somente para nosso próprio umbigo, fazemos o que nos agrada, somos sempre os beneficiados com tudo que está ao nosso redor, inclusive o dinheiro e tudo aquilo que possa nos dar um tipo de poder. Nosso maior obstáculo sempre será nós mesmos. Nossa ambição para sermos sempre os ganhadores, o ilustres de toda e qualquer situação, nos faz errantes e gananciosos. Pessoas que não se preocupam com outras. Homens que fazem de tudo para continuar olhando só para si mesmo.
Com este olhar fechando em si mesmo, o que acontece ao seu redor é secundário, tudo vira segundo plano. Até a família vira segundo ou terceiro plano. Não se pode enxergar tudo olhando para si mesmo. Não se vê a boa reputação indo embora, a honestidade, a ética escorrendo entre os dedos. Tudo isso vai embora quando olhamos para nós mesmos.
Nosso olhar precisa se firmar no próximo, ele precisa ser nosso norte. Não existimos sozinhos, nossos problemas não são os únicos. Há milhões de indivíduos neste planeta que precisam de um olhar atencioso. Mas se eu olhar apenas para meu umbigo como vou enxergar tal situação!?!
Precisamos fazer como o mestre, fazer do outro alguém importante, pois se não, nos perderemos olhando para nós mesmo. Somente quando olhamos para o próximo, não para condená-lo mas para aprendermos, conseguiremos fazer um Brasil melhor, pois agora não existo sozinho, existem outros comigo na mesma caminhada, rumo a um lugar melhor para se viver.
Ninguém é uma ilha.
Na criação o homem ganha seu par. Ele sente a solidão da vida e logo pede uma axiliadora. Fico observando como esse conseito mudou, como os indivíduos de hoje só pensam em si mesmo. Criaram um mundinho particular. A vida para nossos dias parece ser melhor solitária, ao contrio da criação.
O homem entrou em um eucentrismo capitalista que mudou radicalmente o olhar para outro. Agora o outro não e mais importante, a não ser que possa lhe oferecer algo. Oferecer algo no sentido de beneficio própirio. Quando se é beneficiado, ai sim há um olhar para o próximo, um olhar de posse .
Precisamos voltar a pensar no outro como um ombro amigo e não como meio para lucros, pensar que não somos uma ilha e não conseguimos viver só.
O homem entrou em um eucentrismo capitalista que mudou radicalmente o olhar para outro. Agora o outro não e mais importante, a não ser que possa lhe oferecer algo. Oferecer algo no sentido de beneficio própirio. Quando se é beneficiado, ai sim há um olhar para o próximo, um olhar de posse .
Precisamos voltar a pensar no outro como um ombro amigo e não como meio para lucros, pensar que não somos uma ilha e não conseguimos viver só.
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