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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

E a América Latina fez ouvir a sua voz... Uma breve análise histórica dos movimentos de missão e sua repercussão para a teologia latino-americana


E a América Latina fez ouvir a sua voz...
 Uma breve análise histórica dos movimentos de missão e sua repercussão para a teologia latino-americana
O Congresso Internacional de Evangelização Mundial realizado em Lausanne, Suíça em 1974 representou um marco para o desenvolvimento da Teologia da Missão no mundo, principalmente na América Latina e a partir dela. As discussões sobre a evangelização e a responsabilidade social da Igreja, contribuíram para o processo de libertação e de construção da identidade teológica em relação aos modelos eclesiais-missionários, construídos e adequados para outras realidades sociais, econômicas, políticas e culturais, diferentes da realidade latino-americana, dando início ao que se pode chamar hoje de Teologia Evangélica da Missão Latino-americana, ou como também é denominada: Teologia da Missão Integral.
           Os eventos evangélicos na América Latina, que antecederam Lausanne, como o CLADE I (1969) e a constituição da Fraternidade Teológica Latino-americana (1970), foram fundamentais para se obter uma representação significativa da América Latina naquele congresso através de teólogos como Orlando Costas, Samuel Escobar e René Padilla.
Mas, como todos os eventos históricos que provocam mudanças em grandes escalas não são situações isoladas, mas podem ser comparadas a grandes cachoeiras que existem em função das águas que nelas desembocam, bem como elas não se encerram em si mesmas, mas impulsionam um novo fluxo; eles foram resultados de vários movimentos e geraram outros a fim de não somente promover sua continuidade, mas sua atualidade. 
Lausanne 1974 foi a cachoeira gerada por águas vindas de várias situações históricas e de várias partes do mundo, inclusive da América Latina, e lá, ao se encontrarem, caíram com a força inevitável da história, gerando um novo fluxo com grandes repercussões para a América Latina.  Dentre as situações históricas que antecederam e resultaram no sentimento e no movimento de Lausanne podem-se apresentar rapidamente algumas, a fim de se obter uma visão de conjunto da questão.
1) REFORMA PROTESTANTE 
Movimento que aconteceu no séc. XVI, como desfecho de várias outras manifestações históricas em reação ao imperialismo Católico Romano e impulsionado pelo espírito do Renascimento. Embora não apresentasse claramente uma intenção evangelizadora dos povos chamados pagãos, o que é motivo de muitas críticas, em seu conteúdo teológico, e à luz dos atuais conceitos de missão, foi caracteristicamente missionário. Seria impróprio afirmar que um movimento que colocou a Bíblia nas mãos do povo em sua própria língua, defendeu a liberdade de interpretação das Escrituras, ensinou o livre acesso a Deus através de Jesus Cristo e possibilitou a vivência espontânea da fé, não foi missionário.
            Não desconsiderando as implicações históricas do movimento e seus desdobramentos, foi na Reforma Protestante que a Missão apresentou sua face mais libertadora, pois repercutiu diretamente nos vários aspectos da vida humana, ou seja: religiosa, social, econômica, política, cultural, etc.
PIETISMO
Movimento de dentro da Reforma, iniciado no final do séc. XVII em reação à frieza do ortodoxismo luterano em vigor na época, e inaugurador das atividades missionárias transculturais protestantes. Caracterizou-se pela ênfase na simplicidade e na disciplina da fé e vida cristã, na experiência pessoal de conversão, santificação e envolvimento missionário. Esses elementos passaram a motivar o empreendimento protestante-evangélico entre os povos não cristãos.
MORAVIANISMO
Surgiu dentro do pietismo e marcou a atividade missionária protestante com um intenso envolvimento na evangelização dos povos, acrescentando ao modelo pietista da ênfase na experiência de fé, o desprendimento e a dedicação sacrificial na tarefa missionária. Destacou-se por apontar um modelo de missão não somente para os pobres, mas a partir dos pobres.
PURITANISMO-
Movimento de dentro da Reforma, mais precisamente do calvinismo, ocorrido na Inglaterra no séc. XVII, caracterizado pela exigência de um alto padrão de moralidade pessoal e social dos cristãos da época, através da imposição legal e religiosa possibilitada pela tomada do governo. Seu envolvimento missionário se deu dentro do contexto da expansão colonialista protestante européia.
AVIVAMENTO INGLÊS E METODISMO
Movimento que aconteceu no séc. XVIII dentro do puritanismo. Teve como líder proeminente João Wesley, que sofreu fortes influências do pietismo alemão, mas teologicamente era de origem calvinista. Destacou-se pelas ênfases na disciplina religiosa, experiência carismática, envolvimento dos cristãos na sociedade e de pregadores leigos na tarefa missionária e pastoral. O modelo missionário por eles praticado enfatizava a conversão pessoal e o envolvimento social concomitante desta. Este movimento deu origem ao chamado evangelicalismo.
AVIVAMENTO NORTE-AMERICANO
A América do Norte foi colonizada de forma emigratória por puritanos ingleses, que visavam construir naquelas terras um novo mundo, uma Nova Inglaterra, sob  sentimento de povo escolhido aos moldes do Israel bíblico, neste caso, como um Novo Israel.
Os avivamentos ocorridos na América do Norte se deram nesse meio protestante de origem puritana e geraram vários esforços missionários, inclusive para a América Latina. 
O primeiro avivamento - ocorreu em meios calvinistas, mas com grande repercussão para o meio Batista e Metodista por enfatizar a conversão pessoal. Foram seus protagonistas Jonathan Edwards e Jorge Whitefield. O movimento enfatizava a experiência pessoal de conversão, dedicação à Escritura e a importância dos constantes ventos de avivamento, marcando períodos da história da Igreja.
O segundo avivamento - teve início no final do séc. XVIII. Predominou nos ambientes acadêmicos e caracterizou-se pelo intenso envolvimento missionário de estudantes entre povos considerados ainda não alcançados pela fé cristã evangélica, principalmente no terceiro mundo. Além do impulso do avivamento, também foram movidos pelo sentimento do chamado Destino Manifesto, que conforme o Prof. Antonio Gouvêa de Mendonça se deu sob bases teológicas milenaristas da construção de uma sociedade ideal, conforme ele Uma civilização cristã segundo o modelo protestante[1][1].
MOVIMENTO EVANGÉLICO OU EVANGELICAL-
Originado nos avivamentos, primeiramente na Inglaterra e em seguida na América do Norte, a partir da configuração teológico-missionária destes. Contou com representantes das diversas denominações que compartilhavam dos princípios que marcaram os avivamentos, entre eles: centralidade das Escrituras, conversão pessoal, envolvimento social e evangelização dos povos. Mas, as divergências teológicas dentro do movimento evangélico, principalmente nos assuntos escatológicos, fizeram surgir no início do século 20 três segmentos que distinguiam entre si e, de alguma forma, representam a igreja evangélica até os dias de hoje, que são: Movimento Ecumênico, Movimento Fundamentalista  e Movimento Evangélico Radical ou Crítico
A discussão missionária subseqüente na América Latina e a atual Teologia de Missão são devedoras desses movimentos, bem como de teologias produzidas na Europa, como Teologia Secular, Teologia Política e Teologia da Esperança, mas que não serão tratados neste texto por não ser a proposta desta produção.
MOVIMENTOS EVANGÉLICOS DE MISSÃO:
1)      ECUMÊNICO
Com ênfase na renovação social e no ecumenismo, teve origem no Movimento Estudantil que dinamizou a atividade evangelizadora-missionária no séc. XIX, sob a liderança de John R. Mott, organizador e presidente da Conferência Missionária de Edimburgo, em 1910, de caráter interdenominacional e realizada para discutir os rumos estratégicos da evangelização mundial. Em 1921 foi criado o COMIN Conselho Missionário Internacional, a fim de dar continuidade às discussões de Edimburgo e organizar novas conferências, que aconteceram em 1928 em Jerusalém, 1938 em Tambaram, 1047 em Whitby, 1952 em Willingen, 1958 em Achimota e 1961 em Nova Délhi; vindo em 1961 a integrar-se ao CMI-Conselho Mundial de Igrejas, constituindo-se em seu braço missionário.
As discussões das Conferências que sucederam a Edimburgo e das posteriores à incorporação do COMIN ao CMI, apresentarem ênfase nas questões sociais e um ecumenismo mais amplo. Tal fato resultou na insatisfação da ala evangelical mais conservadora, que se afastou do movimento e desenvolveu suas próprias discussões a respeito da missão evangelizadora da Igreja em nova série de congressos e conferências.
2)      MOVIMENTO FUNDAMENTALISTA
Apresenta ênfase na ortodoxia confessional e na evangelização nos moldes da prática missionária do séc. XIX, a partir da compreensão da missão exclusivamente como a tarefa de evangelização a ser realizada pela Igreja. O discurso missionário, neste caso, se dá em vista de uma perspectiva mais fatalista da história humana. Nesta perspectiva o evangelho salva o pecador do mundo, não para a transformação deste.
3)      EVANGÉLICO RADICAL OU CRÍTICO
Este termo visa a designar aqueles evangélicos que afirmam a autoridade e prioridade das Escrituras, a importância da conversão, a eminente volta de Cristo e outros pontos teológicos que caracterizam o evangelicalismo histórico. Também afirmam a necessidade de envolvimento e transformação social e, para isso, a ação socialmente libertadora do evangelho.
Embora o movimento evangelical de missão do séc. XX tem sua origem também na Conferência de Edimburgo (1910), foi em 1966 que realizou o Congresso sobre Missão Mundial na cidade de Wheaton, numa perspectiva evangelical mais conservadora e, de certa forma, em reação aos desdobramentos do movimento ecumênico de missão. No mesmo ano foi realizado em Berlim o Congresso Mundial de Evangelização, fundamental para o desenvolvimento do movimento de missão evangelical. Em Berlim decidiu-se pela realização de congressos continentais para discutirem os rumos da evangelização, o que permitiu que o movimento chegasse a América Latina e desse origem ao primeiro congresso de evangelização: CLADE Congresso Latino Americano de Evangelização.
CLADE I Organizado em 1969, na cidade de Bogotá, pela Associação Evangelística Billy Graham. Contou com a presença de representantes do fundamentalismo evangélico norte-americano defensores de uma evangelização tecnicista com vistas ao crescimento numérico das igrejas. Em contrapartida, o evento contou com a presença de teólogos latino-americanos que fez  demonstrar que nessa região já florescia uma teologia da missão de nuances nativas, e que aliava o pensar teológico e a evangelização aos dilemas sociais do povo latino-americano.
FRATERNIDADE TEOLÓGICA LATINO-AMERICANA Como afirma Longuini Neto  ela nasceu, de certa forma, nos corredores do CLADE I[2][2], foi organizada formalmente em 1970 em uma consulta realizada em Cochabamba. Tornou-se elemento fundamental para o estabelecimento de uma liderança regional e de origem latino-americana para dar continuidade às discussões sobre a missão, não mais somente em nossas terras, mas a partir da América Latina.
CONGRESSO INTERNANCIONAL DE EVANGELIZAÇÃO LAUSANNE
Realizado em 1974, na cidade de Lausanne Suíça, organizado  pela Associação Evangelística Billy Graham, de caráter interdenominacional e mundial, a fim de reunir representantes evangélicos do mundo todo para discutirem a evangelização. Os teólogos Samuel Escobar e René Padilla foram convidados para serem os palestrantes representantes da América Latina. Suas palestras foram: Samuel Escobar sobre A Evangelização e a Busca de Liberdade, de Justiça e de Realização pelo Homem.  René Padilla discursou sobre A Evangelização e o Mundo.
A conseqüência de Lausanne para a América Latina foi maior do que a abertura possibilitada pelo Pacto para a evangelização integral, pois estimulou segmentos da Igreja para uma teologia com contorno regional e preocupada em responder as questões do contexto sócio-cultural latino-americano. Se tal desfecho fazia parte ou não da agenda formal do congresso é de menos importância, mas a América Latina se fez presente e certamente fez ouvir a sua voz, não mais somente como campo de missão, mas com uma compreensão própria da sua tarefa missionária.
CLADE II Realizado em 1979 na cidade de Lima Peru. Desta vez, o congresso foi convocado e dirigido pela FTL o que revela o avanço do movimento evangélico Latino-americano. Teve como finalidade  enfatizar e contextualizar para a América Latina o Pacto de Lausanne e prosseguir as discussões em torno da Teologia da Missão Integral.
CBE I O Congresso Brasileiro de Evangelização foi realizado na cidade de Belo Horizonte, no ano de 1983, com a finalidade de contextualizar o Pacto de Lausanne para o Brasil. Tratou da evangelização em suas diversas relações: eclesial, sócio- política, cultural, etc. Foi um marco nas discussões sobre a evangelização nas terras brasileiras e possibilitou, de uma forma mais direta, o contanto com esse movimento evangélico de missão próprio da América Latina.
CONGRESSO INTERNACIONAL DE EVANGELIZAÇÃO II
Realizado na cidade de Manila Filipinas, no ano de 1989. Organizado pela CLEM Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial. Com aparente intenção de retorno à ênfase na evangelização nos moldes do fundamentalismo norte-americano. Infelizmente, não houve a participação de teólogos latino-americanos na agenda do evento. O  congresso de Manilla teve sua importância no desenvolvimento do pensamento sobre a evangelização, mas certamente não alcançou o brilhantismo do Congresso de Lausanne que continuou sendo, através de seu pacto, o marco para o movimento evangélico latino-americano.
CLADE III Realizado em 1992 na cidade de Quito Equador, também organizado pela FTL, procurou continuar a discussão sobre a Teologia da Missão Integral na América Latina à luz do Pacto de Lausanne, sempre considerando os desafios sócio-eclesiais emergentes em nossa região.
CLADE IV Aconteceu no ano 2000, também na cidade de Quito no Equador, e ocupou-se em discutir a relação da missão da igreja evangélica na América Latina com as Escrituras, testemunho cristão, liturgia, grupos sociais, etc.
CBE II Realizado na cidade de Belo Horizonte em 2003. Organizado por representantes da FTL-Setor Brasil, Mocidade para Cristo e Aliança Bíblica Universitária. Embora com pretensão de ser uma atualização de Lausanne para os novos tempos da Igreja brasileira, fez demonstrar a atual necessidade de envolvimento das igrejas locais e sua liderança pastoral na discussão sobre a Teologia da Missão, pois é Missão da Igreja e não pode mais ser realizada por grupos que se organizam a parte desta, mas deve ser feita a partir de dentro da Igreja Latino-americana em suas expressões locais.
            Todos estes eventos são decorrentes de um movimento maior denominado de Movimento de Missão, que repercutiu na América Latina e dela obteve como resposta uma forma de teologia que, nascida em solo latino-americano, pretende considerar as perguntas que surgem da experiência sócio-histórica deste povo. Esta teologia que parte da compreensão do envio da Igreja do Senhor Jesus ao mundo, para uma ação missionária integral. Esta resposta teológica é o meio pelo qual, mais uma vez, a América Latina faz ouvir a sua voz.

BIBLIOGRAFIA
BOSCH, David J. Missão Transformadora Mudanças de Paradigma da Teologia da Missão, São Leopoldo: Sinodal, 2002.
ESCOBAR. Samuel. La Fé Evangélica y las Teologías de la Liberación. El Paso: Casa Bautista de Publicaciones, 1987.
______. Desafios da Igreja na América Latina. Viçosa: Ultimato, 1997.
GRAHAM, Billy. A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Paulo: ABU, 2 ed., 1984.
PADILLA, C. René. 25 Anos de Teologia Evangélica Latino-americana. Buenos Aires: Fraternidad Teologica Latinoamericana, 1995.
MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir, São Paulo: ASTE, 1995.
NEILL, Stephen. História das Missões. São Paulo: Vida Nova, 1989.
NETO, Luís Longuine. O Novo Rosto da Missão, Viçosa: Ultimato.
SCHERER, James A. Evangelho, Igreja e Reino, São Leopoldo: Sinodal/EST, 1991.
STOTT, John R.W.  Evangelização e Responsabilidade Social. São Paulo: ABU, 1980.

Regina de Cássia Fernandes Sanches
Mestre em Missiologia FTSA/Londrina, Mestre  em Teologia e Práxis ISI/FAJE, professora de Teologia Latino-americana da FATE-BH.





[1][1] MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir, São Paulo:ASTE, 1995, p. 30.
[2][2] NETO, Luís Longuini. O Novo Rosto da Missão, 2002, p. 164.

João – 2:1-11.


João – 2:1-11.
Pontos principais: Terceiro dia, casamento em Caná da Galiléia, Jesus foi convidado, Serventes obedientes, Seis talhas de pedra, Encheram de água as talhas, Mestre da festa prova o vinho, o bom vinho sempre é servido primeiro.
Objetivo.
Observar o milagre como sinal da presença do messias.
Palavras chaves: Casamento = salvação, “água” = purificação, “vinho” =
Alegria.
Título: Um sinal.
Introdução:
Atenção é fundamental para aqueles que querem ver um milagre, mais do que isso, ela é fundamental para se perceber os sinais da presença do messias. Para os desatentos o milagre acontece e tudo continua com sempre esteve. Por mais que os sinais sejam fortes evidências da presença do Cristo, os desligados continuam a festar como se nada tivesse acontecido.
Ficar ligado, prestar atenção é meio de perceber nos mínimos detalhes da vida o sinal da presença do messias, e assim contemplar o milagre.
1ª Um sinal de festa boa é ter Jesus como convidado.  V: 1-2
            O texto tem sua introdução falando no terceiro dia, isso se refere à ressurreição do Cristo, logo depois outra informação: o casamento é em Caná da Galiléia vilarejo pequeno que fica ao norte da Palestina.  Podemos extrair duas coisas importantes dessas informações: a primeira é que João anuncia o messias, e segundo é usado uma cidade pequena para que o milagre aconteça, assim como a cidade do nascimento de Jesus, e por fim casamento para os Judeus tem como símbolo a aliança com Deus, por isso a importância do evento.
A mãe de Jesus já estava na festa, talvez por que fosse amiga do casal ou parente. Não se sabe por que ela já estava lá. O autor apenas coloca ela em cena e sem chamá-la pelo nome.  
            Agora sim Jesus entra em cena junto com seus discípulos. Não se sabe qual a ligação entre os noivos e Jesus, mas apenas que ele é convidado.
            Para nossa reflexão precisamos entender que Jesus é um convidado especial mesmo na festa de um desconhecido. Não faz necessário saber o nome, o parentesco, o vínculo de amizade, mas sim que ele precisa estar presente na festa.
            Sua presença no casamento ou em qualquer área da vida é sinal de milagre. O fato de ele estar presente significa que coisas ruins podem acontecer, mas no final tudo dará certo.
            Não se pode esquecer que ele precisa ser convidado, ele não costuma entrar de penetra, apenas quando é convidado faz parte da festa (vida).
2ª- Um sinal de fim de festa é a falta de vinho. v: 3-5
Para os judeus as festas duravam dias e a falta do vinho era um sinal de que a festa havida acabado. Também era uma vergonha para os noivos faltar vinho, pois o casamento também era um grande acontecimento social. Para que a festa fosse boa deveria ter muito vinho e à medida que o povo fosse ficando alto, era servido o vinho inferior.  
            Os riscos dos noivos passarem vergonha são iminentes, pois foi detectado pela mãe de Jesus que o vinho acabou. E agora o que fazer? A mãe de Jesus sabia o que fazer. Ele vai em direção a ele, não como mãe, mas como discípula.  Pois apenas os que criam sabiam o que ele seria capaz da fazer, e a mãe de Jesus, como é chamada por João, sabe do que seu mestre é capaz.
            Apesar de ter um convidado especial na festa, poucos são os que sabem e crêem em Jesus. Por isso não basta tê-lo em sua vida, se faz necessário conhecê-lo assim como a mãe e os discípulos o conheciam. Não adianta ter Jesus na festa se você não sabe o que ele é capaz de fazer. Nada muda em sua vida se você buscar conhecer Jesus. Se você não conhecê-lo intimamente, mesmo que ele esteja na sua vida o vinho pode acabar.
3ª- Um sinal que transforma lei em graça. V: 6-8.
Como bons Judeus os noivos colocaram na entrada da festa seis talhas com água, para que cada convidado fizesse sua purificação antes de comer ou beber alguma coisa. Ritual de judeus que cumpriam a lei ao pé da letra.  Para o autor isso é simbólico, pois representa ou pretende representar as purificações judaicas como: o coração de pedra a que se refere Ezequiel (36:26) e às tábuas de pedra a torá.
Os serventes deram ouvido primeiro para a mãe de Jesus, e logo obedeceram as ordens recebidas e encherem as talhas.  Esses fatos nos apontam para algumas coisas: primeiro que as talhas estão representando a antiga lei e Jesus veio para melhorar, em segundo que os serventes obedecem sem mesmo conhecer Jesus. A cena representada nos oferece algumas reflexões.
Jesus transforma o impuro em puro, ela faz isso em todo coração que crê nele. O que não acontece com os serventes, pois eles apenas cumprem seu papel de funcionário. Eles ouvem a mãe, obedecem ao filho, mas estão desatentos ao sinal. Não percebem que quem eles estão obedecendo é o messias de quem João estava falando.
            Se os servos tivessem atentos ao sinal feito por Jesus seriam libertos, passariam a serem não mais serventes, mas servidos pela graça redentora que tira qualquer pessoa da opressão.
            Para trocarmos o nosso fardo por um mais leve precisamos estar atentos aos sinais. E para isso necessário é um relacionamento com o Cristo. Assim passaremos a experimentar a graça redentora do ressurreto, seremos regatados do tradicionalismo religioso.
4ª Um sinal nem todos sabem de onde vem o milagre. V: 9-10.
O mestre sala, um experiente degustado de vinhos, experimenta o melhor vinho. Não entende porque o melhor vinho está sendo servido por último. Apenas os serventes sabiam a origem do vinho.
O mestre sala não menciona o milagreiro, mas vai direto ao noivo perguntar o porquê estava servindo o melhor vinho por ultimo. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

PASSOS DE GRAÇA




Haroldo Reimer 1

Nossos textos sagrados se tornaram fonte para falar da graça de Deus, que age no mundo e o transforma,
transformando pessoas e relações. A graça se tornou texto. A verdadeira fonte da graça se tornou locus literário, virou
literatura. Essa literatura se transformou, para muitos grupos cristãos, em norma, até em norma normans de todo agir

(cristão) em meio às contradições da vida, do cotidiano e da fé.2

Na Bíblia, esta norma normans de parcela significativa do cristianismo, a figura de Jesus se tornou por excelência a
condensação dessa graça de Deus. Na plenitude dos tempos, Deus manifestou nele a inteireza de sua graça. Este é, em
nossa fé, o condutor e o catalisador da graça divina.

Lições da história das religiões e da fenomenologia da religião nos mostram que o Deus da graça é sempre também, de

alguma forma, o Deus da lei. É o que Rudolf Otto chamava de mysterium fascinans et tremendum.3 A divindade que
se manifesta e é percebida é sempre um amálgama de várias facetas; é maior do que toda experiência; por isso é
transcendente. Nosso Deus, na multiplicidade das experiências de fé que se tornaram texto-literatura, é um “amálgama

de diversas personalidades em um único personagem”4. Mesmo na essência da graça, em Jesus, manifesta-se também
uma duplicidade ou ambigüidade do elemento fascinante e terrorífico. Há que amar e temer...

De muitas formas, mesmo antes de Jesus, os textos sagrados de nossa tradição falam da graça de Deus atuante no
mundo. Mesmo na forma da ‘lei’, as Escrituras revelam a face da graça de Deus. Um texto de ‘lei’, isto é do conjunto
de tradições legais do povo hebreu, Torá, revela muito bem esta simultaneidade (simul) de lei, graça, evangelho,
norma, boa nova:

“Não afligirás o estrangeiro, nem o oprimirás;

pois estrangeiros fostes na terra do Egito.

A nenhuma viúva nem órfão afligireis.

Se algum modo os afligirdes, e eles clamarem a mim,

Eu lhes ouvirei o clamor;

A minha ira se acenderá, e vos matarei à espada;

Vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhos, órfãos.

Se emprestares dinheiro a meu povo,

Ao pobre que está contigo,

Não te haverás como credor que impõe juros.

Se do teu próximo tomares em penhor a sua veste;

Deverás restituí-la a ele antes do pôr-do-sol,

Porque é com ela que se cobre, é aveste do seu corpo;

Em que se deitaria?

Será, pois, quando clamar a mim, eu o ouvirei,

porque eu sou Deus misericordioso.”

(Êxodo 22,21-24)

O texto faz parte de um conjunto legal maior (Ex 20,22-23-19), tido pela maioria dos pesquisadores do Antigo

PASSOS DE GRAÇA.doc

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Testamento ou da Bíblia hebraica como o código de leis mais antigo no conjunto destes textos sagrados, variando as

datações entre o século X e VIII aC.5 Sob o guarda-chuva teológico do primeiro mandamento, esta coleção buscaria
abrigar as contradições, as pessoas e os grupos distintos naquela sociedade, aproximando-os sob a noção de aliança
(berit).

Nesta forma de lei no esquema de aliança, a exemplo deste texto, evidencia-se muito bem essa duplicidade,
ambigüidade ou melhor simultaneidade na palavra de graça e de evangelho, isto é ‘boa notícia’. A forma do texto é
‘lei’. O conteúdo, porém, é lei e graça, lei e evangelho. Isso se torna especialmente evidente quando se pergunta pelos
destinatários da graça, por aqueles que são beneficiados pela lei e por aqueles que, como sujeito da lei, são restringidos
na sua ‘liberdade’. O sujeito jurídico do texto é claramente um chefe de alguma unidade familiar-clânica (= tu), que,
no âmbito de sua influência e ingerência social, deveria ‘aplicar’ esta lei, favorecendo as pessoas empobrecidas
mencionadas no texto legal. Para estas personae miserae, a aplicação da lei é ‘boa notícia’, é ‘evangelho’, pois sua
prática implica em um princípio ou passo de inclusão ou manutenção dentro da rede de seguridade social familar-
clânica na sociedade do antigo Israel. Simultaneamente, porém, a lei e sua aplicação resulta em um princípio julgador
sobre a prática social de lideranças sociais, comunitárias e clânicas daquele tempo. Para estes ‘chefes’, a lei e sua
aplicação são ‘lei’ na verdadeira acepção do termo.

A partir deste exemplo particular, é possível fazer duas afirmações importantes: a) em muitos textos sagrados, a fala
sobre a graça de Deus atuante no mundo assume uma simultaneidade de graça e lei; b) no contexto social daquelas
pessoas e comunidades na origem do texto, há movimentos variados de reivindicação, de contestação, de resguardo de
privilégios, enfim de aproximações na forma de acordo, aliança ou, como afirma a língua hebraica, de berit. Para falar
hoje de Deus e de sua graça que transforma o mundo, há que se estar atento para estes dados. A graça que se tornou
texto-literatura-fonte é resultado de passos concretos de pessoas para ensaiarem passos e criarem espaços de graça em
meio à complexidade do cotidiano e das relações sociais. A graça que transforma pode assumir a forma da lei em meio
às contradições sociais, econômicas e políticas dadas dentro um espírito de libertação rumo à liberdade e à dignidade
de vida.

Dentro do Antigo Testamento, ou da Bíblia hebraica, há todo um conjunto de tradições, que adequadamente podem

ser designadas como sendo tradições geradoras de tempos de graça.6 São as chamadas tradições jubilares, nome que
deriva do texto do jubileu do qual se fala em Levítico 25. Em sua grande capacidade de linguagem metafórica, frei
Carlos Mesters afirma que o “jubileu aparece como um rio que atravessa a história do povo de Deus e, com o passar
dos anos, vai crescendo em largura e volume (...) Este rio é formado por muitos afluentes que vêm de regiões e épocas

distantes”7. Pode-se identificar e nomear alguns destes afluentes: o descanso do dia de sábado para o ser humano e os
animais a cada sete dias (Ex 34, 21; 23,12; 20,8-11; Dt 5,12-15; Gn 2,1-3 etc); um descanso para a terra a cada sete
anos (Ex 23,1-11); alforria de pessoas pobres endividadas e escravizadas ao final de seis anos de submissão (Ex

21,2-11; Dt 15,12-18); perdão ou remissão de dívidas ao final do sétimo ano (Dt 15,1-11)8; um jubileu geral a cada
cinqüenta anos (Lv 25); um ano agradável a Deus (Is 61); um jubileu proclamado por Jesus (Lc 4), etc. Especialmente
em Jesus há um resgate e aprofundamento dessas tradições de tempos de graça na história do povo de Deus. O rio se
torna mais profundo e caudaloso!

Essas tradições-texto sobre passos, espaços e tempos de graça na história de nossos antepassados na fé podem ser,
hoje, fontes ou musas inspiradoras para práticas novas e alternativas em meio aos contextos e contradições de nosso
tempo. E assim podem ser lidas e interpretadas. Aqui basta trazer à memória a riqueza de reflexões desencadeadas por
estas tradições dos tempos de graça na virada do século e do milênio, quando internacionalmente havia uma sintonia
com a celebração de um jubileu na tradição católico-romana. Simultaneamente pode-se recordar como este impulso foi
desdobrado para dentro de muitas e diversas ações da campanha “jubileu 2000”, deflagrada e incentivada pelo
Conselho Mundial de Igrejas, e promovida por muitos organismos ecumênicos regionais como o Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs, no Brasil. A experiência daqueles ‘tempos bíblicos’ se tornou texto e esse texto é gerador de novas
experiências. Há aí uma circularidade ou espiralidade hermenêutica, ocorrendo quase uma “fusão de horizontes”
dentro da cadeia de tradições.

As tradições e os textos que para nós se tornaram canônicos ou sagrados um dia foram vivência. Foram a experiência
geradora do testemunho, da codificação na forma de fonte literária inspiradora através dos tempos. Este é um dado
que me parece ser importante nunca perder de vista quando se fala, de forma afirmativa ou subjuntiva, de Deus, sua
Palavra e da sua graça que transforma o mundo. Ao repassar, através dos textos, para dentro da história vivida
daqueles tempos realizamos uma sintonia especial. Reatamos com pessoas, grupos, comunidades que ensaiaram passos
para experimentar espaços de graça neste mundo. Seus passos e suas palavras se tornaram sagrados!

Os contextos dos textos bíblicos, especialmente do Antigo Testamento, nem de longe antevêem ou refletem a
complexidade e as contradições próprias de nossos tempos. São textos de realidades pré-modernas, pré-capitalistas.

PASSOS DE GRAÇA.doc

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Refletem em geral um mundo agrário do Oriente próximo ou do entorno do Mediterrâneo. Sobre a vida de pessoas,
grupos e comunidades em tais contextos incidem formas de tributação, de exploração de produtos e mão de obra.
Desde fins do século VIII aC as demandas próprias de uma economia monetária incipiente se reflete (negativamente)
sobre tais gentes. Empobrecimento, colheitas malogradas, doenças levam pessoas a buscar auxílio na rede de
solidariedade das famílias e dos clãs, procurando incrementar tradições como a lei do resgate, a lei do levirato, etc.
Tais redes, muitas vezes, já estão furadas pela adesão às novas regras econômicas, levando pessoas empobrecidas a
buscar empréstimos que servem de âncora para novos movimentos exploratórios, recheados de ‘maracutaias’, como o

denunciam alguns profetas (Am 8,4-7; Is 3,12-15; 10,1-3 etc).9

O horizonte de mundo daqueles contextos parece ser relativamente pequeno dentro daquele mundo agrário com
poucos e ensaios urbanos, Mas já há aí uma complexidade própria! Em meio a tais contradições se dá o movimento de
pessoas ensaiando o sentido daquele que hoje chamamos de graça e cuja ação tão intensamente desejamos para dentro
de nosso próprio mundo: Deus, em tua graça transforma nosso mundo! O exercício, os passos de gente reivindicando,
de gente buscando saídas, de gente negociando, de outros concedendo vai gerando experiências, que se tornam
referências, que viram acordos, que se tornam textos. Tais textos nos inspiram hoje não só a olhar para a graça do
Deus transcendente, mas para a graça a ser construída de forma conjunta em nosso tempo.

Além do exposto, um exemplo no qual toda a problemática pode muito bem ser exemplificada é a questão do sábado.
O shabbat é, por excelência o tempo e espaço para o gozo da graça em meio ao mundo do trabalho. Os textos bíblicos
mais antigos relativos ao sábado falam dele como uma ruptura do intenso ritmo de trabalho. No dia de sábado deve-se
fazer uma pausa, interromper os trabalhos, mesmo no maior ritmo da produção (Ex 34,21). No dia de sábado deve
haver uma possibilidade de um ócio geral para todos os integrantes da unidade de produção e reprodução (Ex
23,10-11; 20,8-11; Dt 5,12-15). O ápice desse tipo de projeção e representação da graça é alcançada no relato da

criação em Gênesis 1,1-2,3.10 Após haver criado todo o cosmo em seis dias, no sétimo dia Deus descansou de toda
obra que fizera. Este texto em linguagem mítica convida os ouvintes, leitores, enfim todas as pessoas, que se põem no
seguimento a esta tradição a fazerem uma imitatio dei, realizando um tempo de pausa e de graça em meio ao ritmo
intenso da vida. Isso será como uma marca distintiva da fé em Deus, que, em alguns momentos na tradição do povo
hebreu levou a radicalizações. Contudo, a reinterpretação dada por Jesus de Nazaré conduziu o sentido do sábado
novamente à sua originalidade: o sábado foi feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado (M 2,27-28).
Assim, o tempo de graça do shabbat poderá ser uma antecipação da graça de Deus atuante e operante neste mundo. É
um tempo de sonho, de utopia, de suspiro da criatura oprimida em busca de libertação e liberdade. Bem já dizia o
judeu Franz Rosenzweig que “todo sábado humano torna-se sonho da plenitude”. Também para o próprio Lutero, o
ócio é culto verdadeiro a Deus. Cabe a nós, em nossos tempos e em nossas vicissitudes e contradições, dar os passos
para o estabelecimento de espaços de graça em nosso mundo. Assim poderemos mais plenamente dizer: Deus, em tua
graça, transforma o nosso mundo!

[Texto publicado em: PEREIRA, Nancy Cardoso et alii (orgs.). A graça do mundo transforma Deus. Diálogos latino-
americanos com a IX Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas. Porto Alegre: Editora Universitária Metodista,
2006, p. 105-111]

Passeio Socrático

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?
       Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”
       A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que  o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se  não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
       Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não  tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em  relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os  valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de  abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos  virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito.  Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada  semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é  o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,  usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é  que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que  acaba  precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu,  que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su gestão.  Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele  não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si  mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento  globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
 Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita  uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história  daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média,  as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil,  constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dosshopping  centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas;  neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de  missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar,  certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro  comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser  feliz.”

Frei Betto é escritor, autor do romance “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre  outros livros.

Pessimismo capitalista e Darwinismo social



Que fazer quando uma crise como a nossa se transforma em sistêmica, atingindo todas as áreas e mostra mais  traços destrutivos que construtivos? É notório que o modelo social montado já nos primórdios da modernidade, assentado na magnificação do eu e em sua conquista do mundo em vista da acumulação privada de riqueza não pode mais ser levado avante. Apenas os deslumbrados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula, acreditam ainda neste projeto que é a racionalização do irracional. Hoje percebemos claramente que não podemos crescer indefinidamente porque a Terra não suporta mais nem há demanda suficiente. Este modelo não deu certo, pelas perversidades sociais e ambientais que produziu. Por isso, é intolerável que nos seja imposto como a única forma de produzir como ainda querem os membros do G-20 e do PAC.

A situação emerge mais grave ainda quando este sistema vem  apontado como o principal causador da crise ambiental generalizada, culminando com o   aquecimento global. A perpetuação deste paradigma de produção e de consumo pode, no limite, comprometer o futuro da biosfera e a existência da espécie humana sobre o planeta.
Como mudar de rumo? É tarefa complexíssima. Mas devemos começar. Antes de tudo, com a mudança de nosso olhar sobre a realidade, olhar este subjacente à atual  sociedade de marcado: o pessimismo capitalista e o darwinismo social.

O pessimismo capitalista foi bem expresso pelo pai fundador da economia moderna Adam Smith (1723-1790), professor de ética em Glasgow. Observando a sociedade, dizia que ela é um conjunto de indivíduos egoistas, cada qual procurando para si o melhor. Pessimista, acreditava que esse dado é tão arraigado que não pode ser mudado. Só nos resta moderá-lo. A forma é criar o mercado no qual todos competem com seus produtos, equilibrando assim os impulsos  egoistas.

O outro dado é o darwinismo social raso. Assume-se a tese de Darwin, hoje vastamente questionada, de que no processo da evolução das espécies sobrevive apenas o mais forte e o mais apto a adaptar-se. Por exemplo, no mercado, se diz, os fracos serão sempre engolidos pelos mais fortes. É  bom que assim seja, dizem, senão a fluidez das trocas fica prejudicada.

Há que se entender corretamente a teoria de Smith. Ele não a tirou das nuvens. Viu-a na prática selvagem do capitalismo inglês nascente. O que ele fez, foi traduzi-la teoricamente no seu famoso livro: "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações"(1776) e assim justificá-la. Havia, na época, um processo perverso de acumulação individual e de exploração desumana da mão de obra.

Hoje não é diferente. Repito os dados já conhecidos: os três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores à toda riqueza de 48 países mais pobres onde vivem 600 milhões de pessoas; 257 pessoas sozinhas acumulam mais riqueza que 2,8 bilhões de pessoas o que equivale a 45% da humanidade; o resultado é que mais de um bilhão passa fome e 2,5 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza; no Brasil 5 mil famílias possuem 46% da riqueza nacional. Que dizem esses dados se não expressar um aterrador egoismo? Smith, preocupado com esta barbárie e como professor de ética, acreditava que o mercado, qual mão invisível, poderia controlar os egoismos e garantir o bem estar de todos. Pura ilusão, sempre desmentida pelos fatos.

Smith falhou porque foi reducionista: ficou só no egoismo. Este existe mas pode ser limitado, por aquilo que ele omitiu: a cooperação, essencial ao ser humano. Este é fruto da cooperação de seu pais e comparece como um nó-de-relações sociais. Somente sobrevive dentro de relações de reciprocidade que limitam o egoismo. É verdade que egoismo e altruismo convivem. Mas se o altruismo não prevalecer, surgem perversões como se nota nas sociedades modernas assentadas na inflação do "eu" e no enfraquecimento da cooperação. Esse egoismo coletivo faz todos serem inimigos uns dos outros.

Mudar de rumo? Sim, na direção do "nós", da cooperação de todos com todos e na solidariedade universal e não do "eu" que exclui. Se tivermos altruismo e compaixão não deixaremos que os fracos sejam vítimas da seleção natural. Interferiremos cuidando-os, criando-lhes condições para que vivam e continuem entre nós. Pois cada um é mais que um produtor e um consumidor. É único no universo, portador de uma mensagem a ser ouvida e é membro da grande família humana.

Isso não é uma questão apenas de política, mas de ética humanitária, feita de solidariedade e de compaixão.

Leonardo Boff é autor de Princípio compaixão e cuidado, Vozes (2007). 

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Pseudo Epígrafo de Gênesis



Livro de Melquisedeque

(Observação)

A Criação do Universo I


 Antes que existisse uma estrela a brilhar, antes que houvesse anjos a cantar, já havia um céu, o lar do Eterno, o único Deus.
Perfeito em sabedoria, amor e glória, viveu o Eterno uma eternidade, antes de concretizar o Seu lindo sonho, na criação do Universo.
Os incontáveis seres que compõem a criação foram, todos, idealizados com muito carinho. Desde o íntimo átomo às gigantescas galáxias, tudo mereceu Sua suprema atenção.
Movendo-Se com majestade, iniciou Sua obra de criação. Suas mãos moldaram primeiramente um mundo de luz, e sobre ele uma montanha fulgurante sobre a qual estaria para sempre firmado o trono do Universo. Ao monte sagrado Deus denominou: Sião.
Da base do trono, o Eterno fez jorrar um rio cristalino, para representar a vida que d'Ele fluiria para todas as criaturas.
Como sala do trono, criou um lindo paraíso que se estendia por centenas de quilômetros ao redor do monte Sião. Ao paraíso denominou: Éden.
Ao sul do paraíso, em ambas as margens do rio da vida, foram edificadas numerosas mansões adornadas de pedras preciosas, que se destinavam aos anjos, os ministros do reino da luz.
Circundando o Éden e as mansões angelicais, construiu Deus uma muralha de jaspe luzente, ao longo da qual podiam ser vistos grandes portais de pérolas.
Com alegria, o Eterno contemplou a Capital sonhada.
Carinhosamente, o grande Arquiteto a denominou: Jerusalém, a Cidade da Paz.
Deus estava para trazer à existência a primeira criatura racional. Seria um anjo glorioso, de todos o mais honrado. Adornado pelo brilho das pedras preciosas, esse anjo viveria sobre o monte Sião, como representante do Rei dos reis diante do Universo.
Com muito amor, o Criador passou a modelar o primogênito dos anjos. Toda sabedoria aplicou ao formá-lo, fazendo-o perfeito. Com ternura concedeu-lhe a vida; o formoso anjo, como que despertando de um profundo sono, abriu os olhos e contemplou a face de seu Autor.
Com alegria, o Eterno mostrou-lhe as belezas do paraíso, falando-lhe de Seus planos, que começavam a se concretizar. Ao ser conduzido ao lugar de sua morada, junto ao trono, o príncipe dos anjos ficou agradecido e, com voz melodiosa, entoou seu primeiro cântico de louvor.
Das alturas de Sião, descortinava-se, aos olhos do formoso anjo, Jerusalém em sua vastidão e esplendor. O rio da vida, ao deslizar sereno em meio à Cidade, assemelhava-se a uma larga avenida, espelhando as belezas do jardim do Éden e das mansões angelicais.
Envolvendo o primogênito dos anjos com Seu manto de luz, o Eterno passou a falar-lhe dos princípios que haveriam de reger o reino universal. Leis físicas e morais deveriam ser respeitadas em toda a extensão do governo divino.
As leis morais resumiam-se em dois princípios básicos: amar a Deus sobre todas as coisas e viver na fraternidade com todas as criaturas. Cada criatura racional deveria ser um canal por meio do qual o Eterno pudesse jorrar aos outros vida e luz. Dessa forma, o Universo cresceria em harmonia, felicidade e paz.
Depois de revelar ao formoso anjo as leis de Seu governo, o Eterno confiou-lhe uma missão de grande responsabilidade: seria o protetor daquelas leis, devendo honra-las e revela-las ao Universo prestes a ser criado. Com o coração transbordante de amor a Deus e aos semelhantes, caber-lhe-ia ser um modelo de perfeição: seria Lúcifer, o portador da luz.
O príncipe dos anjos; agradecido por tudo, prostrou-se ante o amoroso Rei, prometendo-Lhe eterna fidelidade.
O Eterno continuou Sua obra de criação, trazendo à existência inumeráveis hostes de anjos, os ministros do reino da luz. A Cidade Santa ficou povoada por essas criaturas radiantes que, felizes e gratas, uniam as vozes em belíssimos cânticos de louvor ao Criador.
Deus traria agora à existência o Universo que, repleto de vida, giraria em torno de Seu trono firmado em Sião. Acompanhado por Seus ministros, partiu para a grandiosa realização.
Depois de contemplar o vazio imenso, o Eterno ergueu as poderosas mãos, ordenando a materialização das multiformes maravilhas que haveriam de compor o Cosmo. Sua ordem, qual trovão, ecoou por todas as partes, fazendo surgir, como que por encanto, galáxias sem conta, repletas de mundos e sóis - paraísos de vida e alegria -, tudo girando harmoniosamente em torno do monte Sião.
Ao presenciarem tão grande feito do supremo Rei, as hostes angelicais prostraram-se, fazendo ecoar pelo espaço iluminado um cântico de triunfo, em saudação à vida. Todo o Universo uniu-se nesse cântico de gratidão, em promessa de eterna fidelidade ao Criador.
Guiados pelo Eterno, os anjos passaram a conhecer as riquezas do Universo. Nessa excursão sideral, ficaram admirados ante a vastidão do reino da luz. Por todas as partes encontravam mundos habitados por criaturas felizes que os recebiam em festa. Os anjos saudavam-nos com cânticos que falavam das boas novas daquele reino de paz.
Tão preciosa como a vida, a liberdade de escolha, através da qual as criaturas poderiam demonstrar seu amor ao Criador, exigia um teste de fidelidade. Com o propósito de revelá-lo, o Eterno conduziu as hostes por entre o espaço iluminado, até se aproximarem de um abismo de trevas que contrastava com o imenso brilho das galáxias. Ao longe, esse abismo revelara-se insignificante aos olhos dos anjos, como um pontinho sem luz; mas à medida de sua aproximação, mostrou-se em sua enormidade. O Criador, que a cada passo revelava aos anjos os mistérios de Seu reino, ficou ali silencioso, como que guardando para Si um segredo. As trevas daquele abismo consistiam no teste da fidelidade. Voltando-Se para as hostes, o Eterno solenemente afirmou:
-"Todos os tesouros da luz estarão abertos ao vosso conhecimento, menos os segredos ocultos pelas trevas. Sois livres para me servirem ou não. Amando a luz estareis ligados à Fonte da Vida".
Com estas palavras, fez Deus separação entre a luz e as trevas, o bem e o mal. O Universo era livre para escolher seu destino.